Suinocultura

As tendências globais das pesquisas em doenças infecciosas de suínos

24 fevereiro 2022

Epidemias podem gerar aumento nas pesquisas de determinadas doenças em suínos

As doenças infecciosas causam impactos econômicos significativos na produção de suínos. O rápido crescimento da população humana foi acompanhado pela intensificação e globalização da indústria suína, fato que contribuiu para o aumento da transmissão de patógenos nos rebanhos. As doenças infecciosas restringem a produção e o comércio, além de reduzirem a qualidade de vida dos animais e ameaçarem a saúde humana. O controle de enfermidades infecciosas exige conhecimentos relacionados ao comportamento e à relevância dos patógenos em cada região geográfica. Essas informações auxiliam os profissionais a tomarem decisões mais precisas e eficientes, capazes de reduzir a vulnerabilidade da produção animal diante das ameaças sanitárias.

Entre as doenças em suínos estudadas, metade corresponde à zoonoses

Os pesquisadores da Universidade de Minnesota, Kimberly VanderWaal e John Deen, reuniram os assuntos de mais de 57.000 publicações relacionadas à sanidade de suínos. O objetivo consistiu em estabelecer um retrato global das principais ameaças sanitárias que afetaram os rebanhos entre os anos de 1966 a 2016. Todos os artigos analisados estavam inseridos no PubMed, uma das principais plataformas para a pesquisa de publicações científicas da área da saúde. De acordo com os dados reunidos, cerca de 40 espécies de patógenos foram estudadas durante o período (16 vírus, 15 bactérias, 8 helmintos e 1 protozoário). A maioria das publicações era relacionada à Salmonella spp. (6.466 publicações), a Escherichia coli (4.985 publicações), ao vírus da influenza (4.729 publicações) e ao vírus de Aujeszky (4.170 publicações). Dos 40 patógenos com maior número de publicações, 20 foram zoonoses, sugerindo que o investimento é maior na pesquisa das doenças que podem afetar a inocuidade dos alimentos e a saúde das pessoas envolvidas com produção animal.

Em relação às variações por região, observou-se que nos países em desenvolvimento, onde a suinocultura não possui caráter intensivo, houve um maior número de publicações relacionadas a parasitas, tais como a Taenia solium e o Toxoplasma gondii. Por outro lado, nos países onde a produção é intensiva e os rebanhos apresentam status sanitário mais elevado, observou-se que o investimento foi direcionado, principalmente, para o estudo de doenças bacterianas e virais.

Na América Latina, houve um maior número de publicações relacionadas a Taenia solium, Salmonella spp, PCV2, Escherichia coli e Toxoplasma gondii. Apesar dos diferentes perfis de pesquisa, todos os continentes apresentaram alguma publicação sobre o vírus da influenza, Salmonella spp, vírus da síndrome reprodutiva e respiratória dos suínos (PRRSV), Escherichia coli, PCV2 e vírus da febre aftosa.

Epidemias geraram aumento de pesquisas de doenças como ‘gripe suína’ e Lawsonia intracellularis

VanderWaal & Deen (2018), observaram que o perfil das pesquisas mudou muito ao longo do tempo. Sempre houve esforço para estudar as doenças de notificação obrigatória, no entanto, as publicações relacionadas à febre aftosa, por exemplo, reduziram drasticamente nos últimos anos. Essa mudança de prioridades na pesquisa está relacionada com a diminuição da prevalência de determinadas doenças (reflexo de programas eficientes de controle e erradicação) e com o aumento da importância de outras.

Algumas mudanças nas tendências de publicação surpreenderam os autores. As pesquisas sobre o vírus da hepatite E e o vírus do Nipah (considerados patógenos emergentes), assim como o vírus da influenza e o Streptoccus suis (considerados patógenos zoonóticos), apresentaram uma taxa de aumento maior do que esperado. O mesmo aconteceu com as pesquisas sobre Lawsonia intracellularis, PCV2, PRRS e PED (vírus da diarreia epidêmica suína). Os autores justificam esse aumento inesperado com as epidemias. Em 2009, a epidemia de “gripe suína” exigiu que os investimentos fossem direcionados à pesquisa do vírus da influenza, uma vez que a doença provocou grande impacto na saúde pública mundial (Smith, 2009). O PED também chamou atenção dos pesquisadores em 2013, quando a doença emergiu no leste da Ásia e promoveu perdas econômicas em diversas regiões do mundo (Goede et al., 2016).

Agentes como a Pasteurella multocida, Actinobacillus pleuropneumoniae, Brachyspira hyodysenteriae e vírus da gastroenterite transmissíveis apresentaram menos publicações ao longo do tempo. De acordo com os autores, a importância desses agentes pode ter reduzido devido às melhoras dos manejos sanitários nas granjas, o que resultaria na diminuição do impacto provocado por eles.

Essa revisão fornece uma perspectiva sobre as prioridades de pesquisa dos últimos anos. Os resultados mostram as tendências temporais e geográficas, destacando as ameaças sanitárias emergentes e crescentes no mundo. Uma análise mais detalhada das publicações, incluindo informações sobre as cepas, identificação de linhagens patogênicas e categorização dos estudos por área de pesquisa (epidemiologia, controle e prevenção de doenças, diagnóstico, caracterização genética, desenvolvimento de vacinas) permitirá uma compreensão ainda maior do panorama da sanidade suína global.

Referências:

Smith, G.J. Origins and evolutionary genomics of the 2009 swine-origin H1N1 influenza A epidemic. Nature 459:1122–1125, 2009.

Goede, D., Morrison, R.B. Production impact & time to stability in sow herds infected with porcine epidemic diarrhea virus (PEDV). Prev Vet Med 123:202–207, 2016.

VanderWaal, K., Deen, J. Global trends in infectious diseases of swine. PNAS, vol.115, n.45, 2018.

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