Suinocultura

Efeito da vacinação intradérmica sobre o bem-estar dos suínos

22 fevereiro 2022

Aplicação de vacina intradérmica gera menos dor e estresse aos suínos

Durante a vida produtiva de um suíno, cada animal é vacinado diversas vezes. Matrizes suínas recebem várias doses de vacinas durante sua fase gestacional e os machos reprodutores também são frequentemente imunizados. Todo esse processo é necessário, pois contribui diretamente para a melhora da saúde do rebanho como um todo. Entretanto, a vacinação pode causar desconforto aos animais, tornando esse evento negativo e com o tempo, os mesmos podem desenvolver fobias e rejeições ao procedimento (HEMSWORTH & COLEMAN, 2010).

De acordo com o tipo de vacina, natureza do conteúdo e dependendo do método de aplicação utilizado, há uma variação da intensidade da dor experienciada pelo animal. A seringa com agulha é o método mais utilizado na produção de suínos. Algumas lesões são associadas a esse método de aplicação como resultado de agulhas quebradas ou contaminação bacteriana (CHASE et al., 2008), questões frequentemente observadas nos animais tanto da terminação quanto dos reprodutores.

Aplicação de vacina intradérmica melhora o bem-estar de suínos

Na tentativa de minimizar os danos causados, aumentar a eficácia de aplicação nos animais e diminuir o estresse deste manejo, tecnologias de vacinação sem o uso de agulhas foram desenvolvidas. Dentre as vantagens de se utilizar um sistema sem agulhas, observa-se: eliminação de acidentes com agulhas quebradas, injeção correta do volume das vacinas, eliminação de acidentes com trabalhadores e menor produção de material de risco (WILSON, 2004). Em humanos, esse efeito menos estressante já foi comprovado e pode-se extrapolar para os animais todos os mesmos benefícios (STOUT, 2004).

Em um estudo realizado por Temple et al. (2017), foi avaliado o efeito da utilização de um sistema de aplicação sem agulha (intradérmica) vs o método convencional (com agulha). Os pesquisadores dosaram alguns biomarcadores presentes na saliva, indicadores importantes para entender os níveis de estresse dos suínos. Além de mensurar o cortisol, hormônio importante envolvido nos processos de estresse, outros marcadores foram avaliados. Dentre eles, foram avaliadas algumas proteínas de fase aguda, proteínas C-reativas e haptoglobina (gerados pela própria vacinação). Além dos marcadores fisiológicos acima citados, neste estudo foram avaliados indicadores comportamentais dos animais vacinados com os diferentes métodos.

Utilização de vacinas para suínos com agulha gera dor e respostas comportamentais negativas

Os indicadores comportamentais não foram muito diferentes entre os grupos de fêmeas. Entretanto, as fêmeas que foram vacinadas com o método convencional (seringa com agulha), apresentaram uma redução na sua atividade no dia da vacinação, o que pode interferir diretamente no consumo alimentar, algo muito valioso, especialmente para os animais gestantes. Respostas comportamentais de medo e estresse no momento da aplicação também foram reduzidas significativamente nas fêmeas que receberam o método “sem agulha”. Tais indicadores englobam as vocalizações, mudança de comportamento e tentativas de fuga. A interação humano-animal também foi comprometida. Um dia após o manejo de vacinação, 33% dos animais vacinados com agulhas convencionais e de 3% no grupo do sistema “sem agulha” não se aproximaram da pessoa que realizou a vacinação do grupo de animais estudado (TEMPLE et al., 2017).

Uso da vacina intradérmica melhora o sistema de manejo na suinocultura

Além dos parâmetros comportamentais, avaliações físicas e fisiológicas também demonstraram respostas favoráveis ao uso de sistemas de aplicação intradérmica. Fêmeas vacinadas com o método tradicional apresentaram até quatro vezes mais lesões cutâneas quando comparadas àquelas fêmeas vacinadas sem agulhas. Estas mesmas fêmeas também apresentaram uma recuperação do processo inflamatório bem mais lento, em que 26% dos animais vacinados com agulha desenvolvem abcessos no local da injeção (TEMPLE et al., 2017).

A dor e o estresse que os animais são submetidos neste manejo, refletem diretamente na forma como se relacionam com o ambiente. Animais que sofrem qualquer estímulo aversivo, respondem com alteração de comportamento, seja evitando o contato humano ou mesmo demonstrando comportamento agressivo. Todo esse processo, pode gerar um aprendizado negativo para o suíno, que muitas vezes associa a pessoa que realizou o procedimento com a dor da vacinação, o que pode interferir no consumo de ração e, consequentemente, no desempenho da fêmea. Além disso, o uso desse sistema em leitões evita contaminações cruzadas entre leitegadas e animais de baias diferentes.

Portanto, qualquer cenário que possamos evitar esse manejo, deve ser levado em consideração. A utilização de um sistema sem agulhas pode ser mais prática e menos aversiva aos animais, mas também contribui para que o volume adequado seja administrado aos animais.

Referências:

CHASE, Christopher CL et al. Needle-free injection technology in swine: Progress toward vaccine efficacy and pork quality. Journal of swine health and production, v. 16, n. 5, p. 254-261, 2008.

HEMSWORTH, Paul H ; COLEMAN, Grahame J. Interações homem-gado: o criador e a produtividade de animais de criação intensiva . CABI, 2010.

STOUT, R. R. et al. Subcutaneous injections with a single-use, pre-filled, disposable needle-free injection device or needle and syringe: comparative evaluation of efficacy and acceptability. Drug Delivery Tech, v. 4, p. 2-6, 2004.

TEMPLE, Déborah, et al. Effect of the needle-free “intra dermal application of liquids” vaccination on the welfare of pregnant sows. Porcine health management, 2017, 3.1: 9.WILSON, Phil. Needle-free immunization as effective as needle and syringe method. Council Research, 2004.

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