Produção livre de antibióticos
10 novembro 2021
A difusão de antimicrobianos na medicina humana e veterinária nos últimos anos acelerou o surgimento e a disseminação de microrganismos resistentes. Essa situação foi agravada pela falta de investimento no desenvolvimento de novos antibióticos eficazes. A gravidade das consequências é óbvia: estima-se que, a cada ano, infecções resistentes a antibióticos matam pelo menos 25.000 pacientes e custam à União Europeia 1,5 mil milhões de euros em assistência médica e perda de produtividade (1). Para remediar esta situação, muitos países estabeleceram estratégias para conter o desenvolvimento de resistência aos antibióticos com uma perspectiva conjunta: saúde humana e veterinária. Ao mesmo tempo, a crescente sensibilidade da opinião pública aos problemas derivados da resistência bacteriana gera novas demandas por produtos, e uma delas é pela carne de animais que foram criados sem o uso de antibióticos.
É difícil alcançar a produção livre de antibióticos?
A carne de porcos criados sem antibióticos é mais custosa no mercado, e isso tem levado alguns produtores a considerarem sua produção. Mas criar animais sem o uso de antibióticos não é fácil. Muitas fazendas são produtoras há muito tempo e, durante esse período, a sua população acumulou patógenos. O uso de uma nova genética altamente prolífica levou os sistemas ao limite e, em muitos casos, reduziu a qualidade de uma parcela dos porcos produzidos. O desmame precoce dificulta a adaptação a uma dieta sólida. Difíceis condições econômicas na produção animal têm levado a custos menores em todas as áreas de produção: o aproveitamento do espaço é otimizado ao máximo, eles são alimentados para maximizar seu crescimento e, com frequência, são oferecidas as mínimas condições ambientais para manter o custo de energia contido. Frequentemente, os porcos ficam estressados sob essas condições. O estresse vai enfraquecer sua capacidade de resposta imunológica, abrindo as portas para que ocorram processos infecciosos e forçando o uso de antibióticos.
Como produzir porcos sem usar antibióticos
A produção livre de antibióticos não é alcançada simplesmente tomando a decisão de não medicar, mas envolve a implementação de mudanças nas condições de produção. Vamos ver alguns pontos essenciais para ter sucesso:
1. A fazenda, ou pelo menos o fluxo de animais produzidos, deve estar livre de doenças virais, como PRRS (Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos) e Gripe Suína, que ainda carecem de vacinas altamente eficazes.
2. Será imprescindível conhecer em detalhes qual é o estado de saúde da fazenda para poder, desta forma, traçar um programa de vacinação completo que permita conter a maioria dos agentes potencialmente patogênicos presentes. Em alguns casos, onde as vacinas comerciais não estão disponíveis, o uso de autovacinas pode ser uma alternativa, desde que sejam baseadas em um correto diagnóstico e processo de fabricação.
3. O estado de saúde do rebanho deve ser mantido estável. Para atingir esse estado de estabilidade seria preferível produzir seu próprio substituto ou, no caso de adquiri-lo de uma fonte externa, recomenda-se um longo período de aclimatação para que haja tempo suficiente para expor as marrãs à microbiota do rebanho. As porcas da primeira ninhada são frequentemente as responsáveis pela colonização dos leitões (como na infecção por M.hyo). Portanto, o uso de descendentes de porcas multíparas facilitará a obtenção da produção sem o uso de antibióticos.
Resultados de produção para progênie P1 e P2 + | ||
Prole P1 | P2+ prole | |
Mortalidade do berçário (%) | 2.96 | 1.52 |
Berçário ADG (g/day) | 430 | 465 |
Custo de medicamentos do berçário (US$) | 1.37 | 0.53 |
Mortalidade final (%) | 3.8 | 3.25 |
ADG final (g/dia) | 795 | 820 |
Custo final de medicamentos (US$) | 1.07 | 0.77 |
4. A adoção cruzada deve ser considerada uma ferramenta de emergência e, quando necessário, deve ser realizado nas primeiras 24 horas de vida e sempre entre porcas do mesmo lote. A adoção cruzada reduzida (manejo MacREBEL) provou ter um impacto positivo na saúde dos estágios posteriores em surtos de PRRS. Infelizmente, a produção é frequentemente priorizada em relação à saúde, e isso é claramente visto em salas de parto, onde os leitões são com frequência adotados de forma cruzada, independentemente de seu estado de saúde ou o da porca receptora. Foi demonstrado que a movimentação de leitões ou porcas entre diferentes grupos etários é suficiente para infectar um grupo negativo com PRRS ou Influenza (3). Portanto, a decisão de deixar apenas filhotes multíparas como candidatos à produção livre de antibióticos, excluindo os porcos de primíparas, seria completamente inútil se seus leitões já tivessem sido transferidos previamente.
5. Na utilização de porcas hiperprolíficas, deve-se ter um cuidado especial com os leitões que nasceram com baixo peso, garantindo que recuperem a temperatura corporal com rapidez suficiente após o parto, para que sejam fortes e vigorosos para ingerir o máximo de colostro possível. Os suínos que estão entre os 10% com menor peso não devem ser selecionados para produção livre de antibióticos, pois são eles os que mais sofrem com problemas.
6. O desmame tardio, aos 28 dias ou mais, permite mais tempo para adaptação a uma dieta sólida, reduzindo os problemas digestivos que surgem no desmame.
7. Oferecer de 15 a 20% a mais de área de superfície por animal, bem como mais espaço no bebedouro. Isso reduzirá a competição entre os companheiros de curral e, portanto, também irá diminuir o estresse, garantindo um sistema imunológico mais resistente. Esse espaço adicional também será necessário para separar porcos individuais que possam necessitar de tratamento com antibióticos e que deverão ser corretamente identificados e vendidos no mercado tradicional.
8. Devem ser mantidas as condições ambientais corretas em relação à temperatura ambiente, velocidade e qualidade do ar. É muito comum hoje encontrar condições ambientais durante o berçário ou a fase de crescimento, onde a velocidade do ar ao nível do animal é muito alta. Isso reduzirá a sensação térmica dos suínos e gerará estresse. 9. A prática correta de um sistema all-in all-out (“todos dentro, todos fora”) será fundamental para manter o estado de saúde ao longo do tempo e, para isso, é essencial manter a integridade do lote. Quando o tamanho da fazenda é pequeno, é difícil otimizar o uso das instalações sem ter que recorrer à mistura de animais de diferentes lotes. Nesses casos, a implantação de sistemas de gerenciamento de lotes pode ser altamente recomendável, já que irá aumentar o tamanho do lote, facilitando o uso correto das instalações. Em geral, quanto maior o intervalo de tempo entre os lotes, mais eficaz será o sistema em quebrar a dinâmica da infecção entre as diferentes idades. Mas, para manter a integridade do lote, não basta ter eles bem definidos; boas práticas de biossegurança também devem ser aplicadas para evitar a transmissão de patógenos entre grupos de diferentes idades. O uso de equipamento de injeção específico para grupo, lavagem das mãos entre lotes e troca de botas e macacões são algumas das medidas que devem ser comuns na prática.
9. A prática correta de um sistema all-in all-out será fundamental para manter o estado de saúde ao longo do tempo e, para isso, é essencial manter a integridade do lote. Quando o tamanho da fazenda é pequeno, é difícil otimizar o uso das instalações sem ter que recorrer à mistura de animais de diferentes lotes. Nesses casos, a implantação de sistemas de gerenciamento de lotes pode ser altamente recomendável, já que irá aumentar o tamanho do lote, facilitando o uso correto das instalações. Em geral, quanto maior o intervalo de tempo entre os lotes, mais eficaz será o sistema em quebrar a dinâmica da infecção entre as diferentes idades. Mas, para manter a integridade do lote, não basta ter eles bem definidos; boas práticas de biossegurança também devem ser aplicadas para evitar a transmissão de patógenos entre grupos de diferentes idades. O uso de equipamento de injeção específico para grupo, lavagem das mãos entre lotes e troca de botas e macacões são algumas das medidas que devem ser comuns na prática.
Efeito do AI-AO em doenças respiratórias e produção
10. O all-in all-out será totalmente ineficiente caso não seja acompanhado de uma boa limpeza e desinfecção entre os lotes. A limpeza e a desinfecção devem se concentrar especialmente em pisos e paredes até o ponto onde os animais têm acesso, além de em bebedouros, que muitas vezes são mais difíceis de limpar adequadamente, pois água suja permanecerá neles. Também é importante lembrar que as linhas d’água devem ser desinfetadas entre os lotes, pois os patógenos podem se esconder dentro do biofilme das tubulações, podendo infectar novos suínos introduzidos. O aplicativo, por exemplo, pode usar a formação de biofilme como um mecanismo para sobreviver em linhas d’água (6).
11. Por último, mas não menos importante, é necessário um bom programa de nutrição e alimentação.
A produção sem antibióticos é possível, mas não é fácil e sempre será uma forma mais cara de produzir suínos. Embora os preços de mercado dessa carne sejam mais elevados, será fundamental calcular com precisão os custos e as margens de lucro obtidos, pois surpreendentemente nem sempre são superiores aos obtidos com a produção tradicional.
Referências:
1. Communication from the Commission to the European Parliament and the Council. Action plan against the rising threats from Antimicrobial Resistance. Brussels, 15.11.2011. COM (2011) 748 final. http://ec.europa.eu/dgs/health_consumer/docs/communication_amr_2011_748_en.pdf
2. Moore, C. (2005). Parity Segregation. London Swine Conference-Production at the Leading Edge, pp. 61-67.
3. Garrido‐Mantilla et al. (2020). Transmission of influenza A virusand porcine reproductive and respiratory syndrome virus using a novel nurse sow model: a proof of concept. Veterinary Research (2020) 51:42 https://doi.org/10.1186/s13567‐020‐00765‐1
4. A. Vidal, 2015. Vall Companys prived trial (1009 animals).
5. Scheidt AB, et al. 1995. The effect of all-in-all-out growing-finishing on the health of pigs. J Swine Health Prod;3(5):202–205.
6. Loera-Muro, VM, et al. (2013). Detection of Actinobacillus pleuropneumoniae in drinking water from pig farms. Microbiology, 159, 536–544.