Avicultura

Os sintomas de salmonelose em aves e como evitar a propagação da doença

7 junho 2022

O potencial zoonótico da salmonella torna a prevenção fundamental para a avicultura e para a saúde pública

O gênero de bactérias classificado como Salmonella acomete animais e humanos. A salmonelose em aves tem uma atenção especial de médicos-veterinários e órgãos de saúde pública por representar uma ameaça dupla, tanto às aves quanto aos seres humanos. A vacinação preventiva e a observação das manifestações clínicas da infecção são etapas essenciais para o controle dessa zoonose. Siga a leitura para saber quais são os sintomas da salmonelose em humanos e em aves.

Salmonelose em aves: entenda os sintomas de pulorose, paratifo e tifo aviário

Uma das principais dificuldades da salmonelose é a inespecificidade dos sintomas em grande parte dos casos. A manifestação clínica da infecção é determinada pelo agente etiológico, sendo que existem cerca de 90 sorotipos das bactérias da família Enterobacteriaceae que infeccionam animais e humanos. Em aves, a infecção oral pelas bactérias do gênero Salmonella causa três doenças que são conhecidas como salmoneloses aviárias: pulorose, paratifo aviário e tifo aviário.

A questão dos sinais clínicos inespecíficos é um desafio significativo na avicultura. O especialista em Sanidade Avícola André Luiz Della Volpe afirma que as aves podem ser assintomáticas e não apresentar interferência nos índices zootécnicos: ”No geral, as aves quando apresentam uma determinada doença têm por características reduzir o consumo de água e alimento, ficar com penas arrepiadas e podemos notar algum tipo de prostração. Porém, nas salmoneloses (principalmente com as chamadas paratíficas) nem mesmo esse quadro é notado”.

Apesar disso, existem alguns sintomas associados que são listados como característicos das salmoneloses aviárias. O médico-veterinário detalha quais são:

  • Pulorose: ”Doença mais comum em ave jovem, onde podemos encontrar sinais de artrite, cegueira e nódulos nos corações. Em aves adultas o quadro geralmente é assintomático”. Essa é uma enfermidade erradicada em países como Estados Unidos, Canadá e Japão, mas ainda é uma ameaça que ainda resulta em perdas significativas em outros países do mundo.
  • Paratifo aviário: ”No geral é uma doença na qual não se observa nenhuma sintomatologia nas aves, em alguns casos podemos notar quadros inespecíficos de diarréia, letargia, penas eriçadas, mas que se confundem com outras diversas doenças avícolas”.
  • Tifo aviário: ”Doença que normalmente afeta aves de ciclo longo e mais velhas. Geralmente a ave apresenta hepatomegalia e esplenomegalia, degeneração de ovários, presença de petéquias no fígado e este apresenta-se com coloração bronze. A mortalidade causada pelo tifo aviário pode chegar a 80% do plantel”. 

Se atentar aos sinais clínicos é sempre importante. Porém, o desafio do quadro inespecífico implica a necessidade de realizar testes laboratoriais com isolamento bacteriano para obter um diagnóstico final correto e conclusivo. ”Isso dificulta, e muito, o diagnóstico rápido das salmoneloses. O que pode acabar por agravar o quadro, não somente no plantel afetado, como retardar o início de medidas de contenção e a doença pode acabar se espalhando para outras aves daquela região”, afirma Volpe.

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Ingestão de ovo ou carne com salmonella: sintomas em humanos são de desconforto intestinal

Apenas alguns sorotipos de Salmonella são patogênicos para animais e seres humanos. Dentre as três formas de salmoneloses aviárias, o tifo aviário e a pulorose não são zoonoses – portanto, os agentes etiológicos S. Pullorum e S. Gallinarum, respectivamente, não acometem pessoas. Já o paratifo aviário é causado por qualquer outro sorotipo de salmonela fora esses dois, e, dentre eles, estão os que provocam infecção alimentar em humanos, com destaque para o S. enterica.

A toxinfecção acontece através da ingestão de salmonela no ovo ou na carne de frango crus e/ou mal cozidos. Em geral, os sintomas da salmonela em humanos são gastrointestinais e incluem enjoo, cólica, diarreia, vômito e febre. As pessoas costumam apresentar uma boa recuperação e os casos graves – quando as bactérias entram na corrente sanguínea – ou fatais são raros. A prevenção da salmonelose em humanos é simples, basta cozinhar bem os alimentos e tomar cuidados básicos na manipulação dos alimentos. 

”Nas décadas de 80 e 90 os surtos de infecção alimentar em seres humanos estavam diretamente relacionados ao consumo de produtos alimentícios de origem avícola, o que reforçou ainda mais a necessidade de se montar programas de controle deste agente nos plantéis comerciais (corte e postura). Ovos, carne de frango e seus derivados são proteínas seguras para serem consumidas e de ótimo nível nutricional, portanto os cuidados de ‘ponta a ponta’, desde a agroindústria até os cuidados básicos do consumidor, garantem que esta seja uma fonte de alimento muito segura”, explica o médico-veterinário.

Prevenção contra salmonella na avicultura é feita com vacinação e biosseguridade

Seguir um protocolo preventivo contra salmoneloses aviárias é fundamental para a saúde do animal, para a produção da granja e para o controle da zoonose. A principal forma de prevenir a salmonella em aves é através da vacinação. Como existem dezenas de subtipos da bactéria, é importante entender que as vacinas são formuladas contra agentes infecciosos específicos. Ou seja, não existe apenas uma vacina contra salmonela em aves, e sim várias que devem ser combinadas em um protocolo vacinal. 

A vacinação deve ser sempre combinada com medidas de biosseguridade. André Volpe lista quais são elas:

  • Programa de biosseguridade robusto, prático e aplicável;
  • Controle rigoroso de acesso às propriedades (veículos e pessoas);
  • Galpões telados;
  • Fontes de água conhecidas, monitoradas e tratadas;
  • Redução de infestação de pragas, como ratos, insetos, pombos, entre outros;
  • Barreiras sanitárias que não permitam acesso de outras aves e outras espécies animais;
  • Procurar ao máximo não possuir outras criações comerciais na propriedade, como suínos, bovinos, caprinos;
  • Medidas de higiene e limpeza bem descritas, ser detalhista e cuidar de pontos de difícil acesso;
  • Intervalo sanitário entre lotes com práticas para redução da contaminação ambiental;
  • Utilização de vacinas como ferramenta de mitigação de risco;
  • Programa de monitoramento do plantel frequente e com testes específicos e sensíveis.

“Quando falamos de plantéis comerciais de aves de corte ou postura, é muito importante que a origem das aves (casas genéticas, matrizes reprodutoras) tenha controle rigoroso, realizando a eliminação de plantéis positivos, pois em sua grande maioria estas salmonelas têm caráter de transmissão vertical (para progênie). Ações no campo são essenciais para um programa robusto e efetivo. A salmonela, assim como outros microrganismos, é oportunista, então o controle deve ser o chamado ‘do campo à mesa do consumidor’, qualquer falha nesta cadeia poderá imputar em risco de contaminação do produto final”, conclui o gerente técnico de avicultura.

Conclui-se, assim, que a salmonella deve ser uma preocupação de toda granja. As salmoneloses aviárias podem passar despercebidas por ter sintomas inespecíficos e colocam os animais, a produção e os consumidores em risco. Com isso, a prevenção através da vacinação das galinhas e medidas de biosseguridade é indispensável.

* André Luiz Della Volpe (CRMV-PR: 9106) é graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Metodista de São Paulo, pós-graduado em Sanidade Avícola pela Universidade do Oeste de Santa Catarina e mestrando em Produção e Sanidade pelo Instituto Federal Catarinense. É gerente técnico de Avicultura em MSD Saúde Animal.

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