Aquicultura

Quais as doenças mais comuns em peixes reprodutores?

13 junho 2022

A fase de reprodução de peixes na piscicultura pode ser comprometida por doenças comuns nesse período, como a doença bacteriana dos rins em salmões.

A fase de reprodução dos peixes na piscicultura é crucial para a alevinagem. Mas para que a progênie seja de boa qualidade genética, os peixes reprodutores devem estar saudáveis, sem deformações e lesões. Por isso, a circulação de patógenos nesse período pode comprometer a produção de alevinos e causar impactos econômicos significativos. Para compreender quais são as doenças mais comuns na fase de reprodução de peixes, conversamos com os médicos-veterinários Rodrigo Zanolo e Sérgio Vasquez, que destacaram a importância da detecção precoce das enfermidades na criação de tilápias e salmões.

Fase de reprodução dos peixes pode ser comprometida por estreptococose em tilápias e doença bacteriana dos rins em salmões

Rodrigo Zanolo afirma que a doença mais comum na fase de reprodução de tilápias são as estreptococoses, infecções bacterianas de maior impacto na saúde de peixes adultos. “Esta enfermidade se manifesta devido ao estresse de cativeiro presente nos tanques de reprodução e sua incidência se dá principalmente durante os meses mais quentes do ano. Durante a coleta manual de ovos no período de reprodução das tilápias, estes animais são manipulados frequentemente, aumentando o estresse e abrindo a porta para manifestação das enfermidades”, explica o especialista.

O médico-veterinário também esclarece que o maior risco de haver peixes reprodutores infectados por Streptococcus é o impacto epidemiológico na cadeia produtiva, já que essa doença pode comprometer a alevinagem de tilápia. “Reprodutores de tilápias acometidos pelas estreptococoses podem carrear esta enfermidade para os alevinos e, consequentemente, para os juvenis e peixes adultos durante a engorda. Assim, pode-se propiciar a manifestação mais frequente destas enfermidades nas fases de recria e engorda trazendo importantes prejuízos”.

Sérgio Vasquez, especialista em salmonídeos, também faz o alerta para a doença renal bacteriana dos salmonídeos, conhecida pela sigla em inglês BKD, que pode ser transmitida dos salmões reprodutores para os descendentes. “Esta é uma doença infecciosa crônica e endêmica que pode afetar os peixes mais de uma vez durante o ciclo produtivo. É uma doença de transmissão horizontal, que pode ocorrer tanto em água doce quanto no mar. Todos os reprodutores, tanto machos quanto fêmeas, são analisados ​​no momento da desova para detectar, por meio de PCR específico, a presença desse agente, mesmo em níveis muito baixos e mesmo que os peixes estejam saudáveis. Caso seja detectado um reprodutor positivo para esta bactéria, os gametas são eliminados para prevenir futuras infecções na população, reduzindo assim a prevalência da doença. Os peixes devem chegar saudáveis na desova e os que demonstram sinais sugestivos de uma condição infecciosa devem ser descartados a priori”, aconselha.

O mestre em Medicina Veterinária também detalha que, além de BKD, existem algumas doenças típicas do habitat de origem que podem ser encontradas nos salmões reprodutores: “Se os desovadores vêm de um centro marinho, é muito provável que sejam portadores da bactéria causadora da Piscirickettsiose. Se os reprodutores foram transferidos da água do mar, podem ser portadores de agentes bacterianos causadores de doenças como vibriose, furunculose atípica, tenibaciculose e, no caso de doenças virais, a causada pelo vírus ISA. Se os reprodutores sempre foram mantidos em água doce, as possíveis doenças são a já mencionada BKD e a flavobacteriose, que pode se manifestar após algum estresse do manejo dos peixes”.

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Como detectar patógenos em peixes em reprodução

Para evitar que os peixes descendentes dos reprodutores adquiram doenças, é necessário realizar diagnósticos recorrentes no sistema de criação. Vasquez comenta que a detecção das doenças é feita com base em amostras individuais coletadas de cada criador, que são analisadas em um laboratório de diagnóstico. “No caso de um diagnóstico positivo de qualquer um dos agentes analisados na triagem, os ovos incubados devem ser eliminados”, esclarece.

O especialista em salmonídeos cita quais são os métodos utilizados na detecção de doenças na fase de reprodução: “Podem ser necropsia de peixes mortos ou moribundos, identificando lesões ou sinais macroscópicos descritos para essas doenças. Outros métodos são para agentes bacterianos como coloração Gram, cultura de ágar e identificação bioquímica dos agentes, antibiograma para usar o melhor antibiótico dependendo de sua sensibilidade”.

Além dessas técnicas, Sérgio Vasquez aponta a cultura de linhas celulares realizada em tecidos ou poças de células visadas para o diagnóstico de doenças virais. E também o exame PCR, que, segundo o médico-veterinário, “permite a detecção do agente causador de um surto infeccioso com grande certeza, mas por ser tão específico, deve ser usado com parcimônia para um diagnóstico preciso”.

Do mesmo modo, Rodrigo Zanolo menciona o PCR como um método diagnóstico eficaz na detecção de patógenos em tilápias reprodutoras: “Os principais métodos de diagnósticos para as estreptococoses são os testes de PCR assim como os diagnósticos por microbiologia e isolamento do agente bacteriano”.

Medidas para evitar a propagação de doenças na fase de reprodução dos peixes

O diagnóstico de doenças na fase de reprodução deve estar associado a medidas que evitem a proliferação desses agentes infecciosos. Isso porque os patógenos naturalmente estão presentes no meio aquático, o que torna ainda mais difícil evitar contaminações. É o que explica Sérgio Vasquez: “A presença dos agentes nos diferentes ambientes aquáticos acaba por determinar quais doenças infecciosas existem. Sua erradicação é difícil, pois esses agentes são amplamente divulgados e adaptados em diferentes ambientes. Por outro lado, a água é um excelente meio de propagação de agentes infecciosos”.

Por isso, a adoção de estratégias de cultivo que evitem a propagação de doenças em peixes reprodutores é indispensável. Sérgio Vasquez aconselha manter um manejo adequado das densidades de estocagem, realizar a limpeza das unidades de cultivo e garantir boas condições da água, com oxigênio suficiente para os peixes e ausência de sedimentos e patógenos. Outras medidas de biossegurança mencionadas pelo profissional são: “Manter sempre a mesma população no cultivo, evitando a entrada de peixes de outras pisciculturas. Outra medida importante é vacinar os peixes contra as principais doenças onde os reprodutores são mantidos”.

Em resumo, doenças comuns na fase de reprodução dos peixes como a estreptococose e a doença bacteriana dos rins podem prejudicar as progênies, uma vez que tilápias e salmões infectados vão transmitir essas enfermidades para os alevinos. Por isso, é de extrema importância que sejam aplicadas medidas de biossegurança não só nessa etapa, mas também em outros momentos do ciclo do cultivo, como na fase de engorda, que também pode ser afetada por doenças de peixe.

* Rodrigo Zanolo é médico-veterinário, mestre em Ciência Animal e Gerente de Mercado de Aquicultura na MSD Saúde Animal.

** Sergio Vasquez é graduado em Medicina Veterinária pela Universidad Austral de Chile e é mestre em Medicina Veterinária com especialização em Doenças de Salmonídeos pela Universidad San Sebastián de Puerto Montt. Tem mais de 30 anos de experiência na indústria de salmão chilena e é Representante de Vendas da MSD Saúde Animal.

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