Aquicultura

Entre as doenças de peixe, quais o afetam na fase de engorda?

17 maio 2022

Doenças de peixe, como estreptococose e septicemia rickettsial, podem comprometer a fase de engorda na aquicultura

A fase de engorda é uma das etapas mais importantes na criação de peixes do ponto de vista econômico, pois é nesse período que eles começam a ser alimentados com dietas especiais para atingir o peso comercial (que varia em função da espécie). Isso aumenta os custos da produção, principalmente na salmonicultura, pois os pescados são transferidos para a água do mar, sendo necessário investimentos em estruturas que serão utilizadas no cultivo. Mas a preocupação com a circulação de patógenos na engorda é comum ao cultivo de todas as espécies, incluindo das tilápias, peixes altamente comerciais e com bom desempenho zootécnico.

A fim de entender quais são as principais doenças de peixe que afetam tilápias e salmões na fase de engorda e as formas de preveni-las, conversamos com os médicos-veterinários Rodrigo Zanolo e Sergio Vasquez, que esclareceram algumas dúvidas sobre o assunto.

Doenças de peixe mais comuns na fase de engorda incluem estreptococose e septicemia rickettsial

De acordo com Rodrigo Zanolo, as doenças de peixe tilápia mais comuns na fase de engorda são as estreptococoses (nas épocas mais quentes do ano, com temperaturas > 27 °C) e a franciselose (nos períodos mais frios, com temperaturas < 24 °C). “Estas enfermidades são mais incidentes nessas fases de cultivo devido à afinidade e adaptação evolutiva destes patógenos em acometer especificamente estas fases de cultivo e tamanho de animais. Outro ponto relevante refere-se ao melhor desenvolvimento destes patógenos nas diferentes temperaturas de água, sendo as estreptococoses muito bem adaptadas às épocas mais quentes do ano enquanto as franciseloses às épocas mais frias”, explica o especialista.

Sérgio Vasquez também esclareceu quais são as patologias mais comuns na engorda de salmões. Entre elas, estão as doenças bacterianas septicemia rickettsial do salmão (SRS) e doença bacteriana dos rins (BKD) e as patologias virais necrose pancreática infecciosa (IPN) e anemia infecciosa do salmão (ISA). Segundo o mestre em Medicina Veterinária, “a apresentação destas doenças na fase marítima deve-se ao fato de que vários destes agentes são exclusivos do mar. No entanto, há alguns que podem estar presentes na água doce ou no mar e se manifestam em ambos os ambientes”.

Manejo alimentar de peixes na fase de engorda pode fortalecer o sistema imunológico animal

Apesar da circulação de patógenos poder ameaçar a fase de engorda de peixes, é possível fortalecer o sistema imunológico animal através da alimentação e nutrição dos peixes. É o que explica Zanolo, que argumenta que a qualidade da dieta e o manejo alimentar são importantes nesse contexto. “O correto balanceamento nutricional associado à qualidade dos ingredientes e da matéria-prima serão essenciais para produção de um alimento de boa qualidade. As relações entre proteínas e energia, entre outros fatores, são determinantes para o bom crescimento e a ótima saúde dos animais”, complementa o especialista.

O especialista em Saúde de Salmonídeos também confirma que dietas equilibradas contribuem para uma melhor imunidade dos peixes: “cada vez mais são utilizadas dietas funcionais que favorecem não apenas a engorda dos peixes até a colheita, mas também fornecem microelementos, glucanos, vitaminas e/ou imunoestimulantes que contribuem para melhorar passivamente a saúde dos peixes”.

Criação de peixes deve incluir medidas de biosseguridade na fase de engorda de tilápias e salmões

Rodrigo Zanolo cita uma série de medidas de biosseguridade necessárias para prevenir a circulação de patógenos na fase de engorda de tilápias, como: “compra de alevinos oriundos de empresas que comprovem o bom status de saúde dos peixes, medidas de higienização e biosseguridade dentro das fazendas. Também ressalto a setorização da produção separando as diferentes fases de cultivo com objetivo de evitar a contaminação cruzada das doenças, monitoramento de enfermidades através de diagnósticos de rotina, utilização de densidades de estocagem adequadas e utilização de vacinas”.

Além dessas práticas, Vasquez afirma que o conhecimento exato de quais agentes afetam o peixe na fase de engorda é fundamental para especificar o tratamento, controle e prevenção. “Para este fim, devem existir programas de saúde que visem a detecção oportuna de patógenos, sua identificação em um laboratório de diagnóstico e o estabelecimento de medidas terapêuticas para seu controle”, conclui.

Em síntese, é fundamental que sejam adotados cuidados para garantir um bom manejo sanitário. Isso é essencial em todas as etapas do ciclo de cultivo, mas como a fase de engorda é crucial para que os peixes atinjam boas condições para serem comercializados, as medidas para evitar as doenças de peixe devem ser conduzidas com mais cautela.

* Rodrigo Zanolo é médico-veterinário, mestre em Ciência Animal e Gerente de Mercado de Aquicultura na MSD Saúde Animal.

** Sergio Vasquez é mestre em Medicina Veterinária, com menção em Saúde de Salmonídeos pela Universidad San Sebastián, no Chile.

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