Aquicultura

Por que efetuar a coleta de mortalidade diária na produção de peixe?

12 agosto 2022

A coleta de mortalidade na produção de peixe deve ser feita diariamente para garantir um bom manejo sanitário

Seguir o protocolo correto de manejo na piscicultura é indispensável para a saúde dos peixes, dos consumidores e, consequentemente, para o sucesso da produção. Retirar o acúmulo de peixe morto diariamente e fazer o descarte correto são práticas básicas de biosseguridade do cultivo. Conversamos com o médico-veterinário, mestre em Ciência Animal e especialista em Sanidade Aquícola Rodrigo Zanolo sobre a importância de efetuar a coleta de mortalidade todos os dias e com a destinação adequada.

Coleta diária da mortalidade é fundamental para garantir a boa qualidade da água para criação de peixes

De acordo com o especialista em sanidade aquícola, é preciso fazer a retirada não apenas do peixe morto, mas também do animal doente que está morrendo, chamado de moribundo. É possível identificá-los ao observar os peixes que estão boiando na superfície e também os que estão afundados no viveiro.

Zanolo explica a importância de realizar a coleta diária de mortalidade: “Quando o peixe encontra-se no estágio denominado moribundo, ou seja, ainda vivo porém em evolução rápida para o óbito, o mesmo encontra-se em seu potencial máximo de liberação de agentes patogênicos como vírus e bactérias para o meio ambiente. O animal que encontra-se morto no ambiente de cultivo é uma fonte de contaminação para outros animais devido à canibalização, por exemplo. Além disso, ainda existe a liberação de resíduos contaminantes, como óleos, tecidos moles entre outros que irão contaminar e aumentar a pressão sanitária e ambiental nos tanques de produção”.

A coleta da mortalidade deve ser feita não apenas para controlar a disseminação de doenças e manter a qualidade da água do viveiro, mas também para controlar os índices de produtividade da produção de peixe. É preciso eliminar os peixes descartados para que seja possível prever quantos peixes vão chegar na colheita.

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Como fazer a coleta de mortalidade diária na produção de peixe

Para que o procedimento de biosseguridade seja feito de forma efetiva e segura, algumas diretrizes devem ser seguidas. O especialista em sanidade aquícola detalha como a coleta de mortalidade diária deve ser feita na produção de peixe: “Este procedimento de coleta de peixes mortos deve ser realizado diariamente, preferencialmente no começo da manhã, antes da oferta da primeira alimentação do dia para evitar a contaminação de outros animais. Deve-se retirar os peixes mortos diariamente e não de forma espaçada, para que a pressão das doenças e a contaminação da piscicultura seja minimizada. Para realização desta ação, é recomendável que os equipamentos sejam dedicados apenas a este manejo, incluindo embarcação, puçás e recipientes apropriados para que mitiguem a disseminação de doenças entre diferentes setores da produção. Somada a esta medida, é importante que o colaborador utilize EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) apropriados ao manejo”.

O descarte dos peixes mortos também deve seguir um protocolo para ser feito corretamente e não contaminar o meio ambiente. Esse é um desafio sanitário extremamente relevante e que deve ser tratado com a devida importância. “A destinação correta dos peixes mortos é uma das ações que contribuem para a melhoria das condições ambientais e sanitárias da produção, pois evita disseminação de patógenos, mitiga a liberação de odores indesejáveis ao ambiente e a poluição dos corpos hídricos”, afirma o mestre em Ciência Animal.

Existem dois manejos possíveis para a destinação da mortalidade, enterrio e compostagem aeróbica. Zanolo detalha cada um dos métodos:

Enterrio:

O enterrio pode ser uma opção para destinação das carcaças, embora não seja muito praticado na rotina das fazendas. Devem ser evitados terrenos pedregosos, bem como áreas próximas a nascentes ou lençóis freáticos. Além disso, é preciso limitar o acesso por outros animais a este espaço. O procedimento envolve a escavação de uma vala de dimensões compatíveis com a quantidade de peixes a serem enterrados, devendo ser fechada com uma cobertura de cal virgem (óxido de cálcio) na proporção de 85 kg/1.000 kg de peixe para acelerar o processo de decomposição.

Compostagem aeróbica: 

Para esse procedimento, é recomendada a utilização de composteira de tijolos, que deverá ser construída em alvenaria com piso impermeabilizado, três paredes com cerca de 1,60 m de altura possuindo vão entre as paredes e telhado com distância de 30 a 50 cm, permitindo a circulação do ar. Na parte frontal da composteira, ao serem depositados os resíduos, deverão ser inseridas tábuas de madeira em trilhos de encaixe, como forma de contenção do material. Como fonte de carbono para o composto, poderá ser utilizada maravalha ou cama de aviário, na proporção 2:1 – duas partes de maravalha para uma parte de peixe.

Para iniciar a compostagem, deve-se acondicionar cerca de 30 cm de maravalha ou cama de aviário nova no fundo da composteira. Em seguida, acondicionar as carcaças em cima da maravalha nova, posicionando-as lado a lado, respeitando um pequeno espaço entre elas e mantendo distância de cerca de 30 cm das paredes. E então, cobrir com maravalha ou cama de aviário – assim sucessivamente em cada momento em que forem depositadas mais carcaças. 

Para a otimização da compostagem orgânica, recomenda-se realizar a inclusão de água na proporção de 30% do peso das carcaças. Em adição, a cada dez dias deve-se realizar o tombamento do material, com o objetivo de aerar o substrato, remontando a pilha com a mesma ordem das camadas e umedecendo novamente as carcaças.

Dessa forma, conclui-se que a coleta diária de mortalidade é um fator de sanidade determinante na produção de peixe. É evidente que, em conjunto a essa prática, deve-se haver um esforço para diminuir as taxas de óbito, evitando doenças a partir da vacinação dos peixes e de boas práticas de manejo e biosseguridade.

* Rodrigo Zanolo (CRMV: 2908) é graduado em Medicina Veterinária e é mestre em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina. Possui mais de 15 anos de experiência na área de Sanidade Aquícola e é Gerente de Mercado de Aquicultura da MSD Saúde Animal.

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