Aquicultura

O impacto das doenças emergentes na criação de tilápia

16 março 2022

As doenças emergentes na criação de tilápia comprometem a saúde animal e os bons índices produtivos

O surgimento de novas enfermidades na criação de tilápia vem impactando significativamente os índices produtivos e as condições de bem-estar animal. Um dos problemas que acompanha esse cenário é que muito pouco se sabe sobre essas doenças quando elas atingem um sistema de criação pela primeira vez, o que dificulta a adoção de medidas de controle. Alguns exemplos de patógenos emergentes são o vírus da tilápia do lago (TiLV), iridovirus e edwardsiella, além do Streptococcus agalactiae – que, embora não seja uma ameaça recente para a tilapicultura, vem oferecendo maiores riscos devido ao surgimento de infecções mistas por mais de um serotipo. A fim de obter uma melhor compreensão sobre o impacto dessas doenças, conversamos com o médico-veterinário e mestre em Ciência Animal Rodrigo Zanolo.

TiLV virus está associado à alta taxa de mortalidade na criação de tilápia

Segundo Zanolo, o principal impacto da doença do vírus da tilápia do lago (TiLVD) é o alto índice de mortalidade ao qual ela está associada. Essa informação vai de encontro com o que foi apresentado em uma publicação da Revista Panorama da Aquicultura, que cita que alguns estudos mostram que o TiLV pode causar a morte em massa de até 90% da população de tilápia.

O profissional explica que isso se deve ao fato de que as patologias de origem viral, diferentemente das bacterianas, apresentam rápida disseminação e são de difícil controle e tratamento. “Por ser uma enfermidade viral de alta infecciosidade, o TiLV acaba se espalhando muito rapidamente nas produções, causando, assim, perdas muito significativas, especialmente nas fases iniciais de produções como alevinagem e recria”, afirma.

Vírus da necrose do baço e do rim, um tipo de iridovirus, tem forte impacto na saúde da tilapias

O vírus da necrose do baço e do rim (ISKNV) é um tipo de iridovirus que pode acometer tanto peixes marinhos quanto peixes de água doce tropicais. Zanolo sinaliza que a tilápia é uma espécie altamente afetada por essa infecção viral, com forte impacto na saúde dos animais e mortalidades diretas. Isso porque, como o próprio nome do patógeno sugere, a doença afeta diretamente dois órgãos de defesa fundamentais para os peixes, os rins e o baço.

É possível que haja uma coinfecção de ISKNV com outros patógenos bacterianos, como Streptococcus agalactiae, o que pode exacerbar as taxas de mortalidade dos peixes. Isso foi observado em um estudo publicado na Transboundary and Emerging Diseases, onde muitos animais apresentaram resultados positivos para ambas as infecções, com sinais clínicos de bacteremia ou meningite grave.

Edwardsiella afeta predominantemente a criação de tilápia nas fases de alevinagem e recria

De acordo com o médico-veterinário, as edwardsieloses também causam impacto significativo na cadeia produtiva de tilápias, sendo a Edwardsiella tarda e Edwardsiella anguillarum as espécies mais importantes e relevantes na etiologia dessa doença. “O impacto desta bacteriose emergente no setor da tilapicultura tem se apresentado principalmente em peixes nos estágios de alevinagem e recria, variando entre 2 e 150 gramas de peso médio. O principal efeito desta doença está nas mortalidades diretas causadas junto às produções, atuando como patógeno primário ou secundário”, complementa o profissional.

Rodrigo também menciona que os principais sinais clínicos causados por infecções de Edwardsiella são as septicemias hemorrágicas, ou seja, lesões ou achados clínicos externos ou internos de caráter avermelhado e/ou sanguinolento em diferentes órgãos dos animais. Uma vez que essas bactérias atuam frequentemente como patógenos secundários, Zanolo argumenta que a melhor forma de prevenir infecções dessa natureza é por meio de boas práticas de manejo como limpeza de tanque de água para peixes.

Infecção mista por mais de um serotipo de Streptococcus agalactiae é um tipo de estreptococose em peixes mais grave 

Por fim, outra doença de peixe emergente que merece atenção é a estreptococose por Streptococcus agalactiae, mais especificamente as infecções mistas por diferentes serotipos que afetam as tilápias. Zanolo admite que esses casos são relativamente comuns nas produções intensivas: “Como são bactérias com alta prevalência junto às produções é comum que em um mesmo animal sejam isolados 2 sorotipos distintos, por exemplo. Um dos principais motivos que explicam a ocorrência de infecção mista é pelo fato destas bactérias serem diferentes umas das outras, ou seja, para cada um destes sorotipos necessitamos de uma vacina específica. Isto faz com que eles atuem de forma paralela e consequentemente possam infectar as tilápias de forma independente e muitas vezes em infecção mista.”

Essa coinfecção por mais de um serotipo de Streptococcus agalactiae é considerada ainda mais crítica para a saúde das tilápias, alerta o mestre em Ciência Animal. Isso porque os serotipos atuam de forma independente e acabam por acometer as tilápias de forma distinta, requerendo dos animais maior esforço em seus mecanismos de defesa.

Em síntese, o principal impacto das doenças emergentes na criação de tilápia, sejam elas de origem viral ou bacteriana, é o alto índice de mortalidade dos peixes. Por isso, é fundamental que os protocolos de biosseguridade na piscicultura sejam priorizados, com os devidos cuidados para garantir um bom manejo sanitário. Os surtos de doenças emergentes vêm com a presença de fatores de risco, como má qualidade da água, densidades inadequadas de cultivo e acúmulo de metabólitos nos tanques.

* Rodrigo Zanolo (CRMV: 2908) é bacharel em Medicina Veterinária e mestre em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina. Possui mais de 15 anos de experiência na área de Sanidade Aquícola e é Gerente de Mercado de Aquicultura da MSD Saúde Animal.

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