O risco crescente de infecções multirresistentes aumentou a conscientização sobre o uso responsável de antibióticos em animais de companhia.
O uso de antibióticos é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da resistência antimicrobiana, portanto, é importante reduzir o uso desnecessário e inadequado de antibióticos na prática clínica veterinária. Isso é feito para diminuir a pressão seletiva que resulta na resistência antimicrobiana e contribui para sua disseminação.
O uso de antibióticos importantes para a saúde pública, conhecidos como “Antibióticos de Importância Crítica” (AIC), é comum em animais de companhia. Esses antibióticos são valiosos porque seu uso é reservado para o tratamento de infecções graves em humanos, especialmente aquelas para as quais não há muitas opções terapêuticas disponíveis, com base em estudos globais de suscetibilidade a antibióticos. Os exemplos incluem infecções por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (SARM) ou por E. coli produtora de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL), que também foram relatadas em cães e gatos.
Os AICs incluem cefalosporinas de terceira e quarta geração, fluoroquinolonas, macrolídeos e todos os novos antibióticos sintéticos.
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Diversos antibióticos classificados como importantes para a saúde pública, incluindo penicilinas resistentes à beta-lactamase, fluoroquinolonas e cefalosporinas, são usados rotineiramente como tratamento de primeira linha em animais de companhia, em alguns casos para tratar infecções leves ou autolimitadas, quando seu uso não é indicado.
O uso responsável de antibióticos em animais de companhia refere-se a todas as ações voltadas para a seleção de antibióticos na dose e duração adequadas. O objetivo é obter o melhor resultado clínico possível para o paciente, com toxicidade mínima e desenvolvimento mínimo de resistência a antibióticos.
O uso de antibióticos é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da resistência antimicrobiana, portanto, é importante reduzir o uso desnecessário e inadequado de antibióticos na prática clínica veterinária.
Na clínica de animais de companhia, os veterinários podem promover ações destinadas a preservar a eficácia dos antibióticos disponíveis. Algumas dessas ações incluem:
- Prevenção de doenças comuns por meio do uso de estratégias profiláticas e de gerenciamento aplicadas em nível individual ou populacional. Os exemplos incluem:
- Educação do tutor: É importante educar os tutores de animais de estimação sobre a prevenção de doenças. A vacinação adequada contra doenças comuns, os cuidados dentários, a nutrição adequada e a prevenção e o controle de parasitas internos e externos podem ajudar a reduzir a necessidade de antibioticoterapia para infecções bacterianas.
- Prevenção de infecções no ambiente hospitalar/clínico: Os veterinários têm a responsabilidade de elaborar e implementar planos de prevenção e controle de infecções no ambiente hospitalar para garantir a segurança do paciente.
- Uso de estratégias baseadas em evidências para a seleção de antibióticos, incluindo dosagem, duração e indicação específica. Isso inclui:
- Uso de diretrizes de prática clínica para a seleção de antibióticos: Por exemplo, a International Society for Infectious Diseases in Companion Animals (Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas em Animais de Companhia) publicou diretrizes clínicas especializadas que fornecem informações sobre o diagnóstico e o tratamento de infecções comuns em cães e gatos.
- Desenvolvimento de protocolos clínicos para orientar o uso de antibióticos após procedimentos, incluindo cirurgia eletiva e profilaxia odontológica: Normalmente, se os protocolos de esterilização e prevenção de infecções não forem comprometidos no ambiente clínico ou cirúrgico, os antibióticos não serão necessários rotineiramente para a maioria dos procedimentos.
- Uso consciente de antibióticos com base em resultados terapêuticos. Isso requer:
- Considerar possíveis diagnósticos diferenciais por meio de um processo de diagnóstico completo para descartar a possibilidade de condições não infecciosas.
- Identificar e tratar as comorbidades e não prescrever antibióticos por precaução.
- Ao diagnosticar infecções bacterianas, identifique o patógeno causador por meio de testes rápidos, moleculares ou de cultura e, em seguida, realize testes de suscetibilidade a antibióticos sempre que possível antes de selecionar a terapia.
- Se possível, considere terapias alternativas a serem implementadas isoladamente ou como terapia adjuvante ao tratamento com antibióticos, dependendo do caso. Isso inclui fluidoterapia, manejo nutricional, intervenções cirúrgicas, como no caso de abscessos ou empiema, terapia probiótica no manejo de problemas gastrointestinais e o uso de antibióticos locais (ou tópicos) em vez de antibióticos sistêmicos, quando possível.
- Monitore a adesão e a resposta ao tratamento para garantir o resultado clínico esperado.
- Em caso de falha no tratamento com antibióticos de primeira linha, investigue o caso minuciosamente antes de trocar de antibiótico ou usar combinações.
Uma estratégia para promover o uso responsável de antibióticos em clínicas veterinárias é nomear um comitê para liderar o processo de implementação de antibióticos. Além disso, vários médicos-veterinários podem ser nomeados para atuar como contato inicial para outros membros da equipe clínica, clientes e até mesmo outras clínicas sobre as políticas de uso responsável de antibióticos.
Os veterinários devem promover mudanças na prática clínica e ser responsáveis pela implementação de um sistema de medição e rastreabilidade. Isso ajuda a identificar os pontos críticos que exigem intervenção e serve para monitorar as mudanças nas práticas de prescrição de antibióticos e seu impacto clínico.
Referências
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