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Primovacinação ou plano de vacinação para filhotes: aconselhamento ao cliente: Parte 2

Sistema imunológico de filhotes e sua relação com o plano de vacinação

Quando um filhote nasce, ele é exposto a vários microorganismos presentes no ambiente e precisa da proteção de seu sistema imunológico para sobreviver. Embora o sistema imunológico seja funcional, ele é imaturo e demora a reagir. Nesse sentido, a mãe desempenha um papel fundamental, pois através dela ocorre a transferência passiva de anticorpos. Os recém-nascidos obtêm anticorpos através da ingestão de colostro. Quando o filhote ingere colostro, ele absorve anticorpos de origem materna (ACM), que passam para a circulação geral.1 

A duração da proteção dos ACM depende da quantidade de imunoglobulinas G (Ig) ingeridas pelo filhote. Essa quantidade está relacionada à quantidade de anticorpos produzidos pela mãe e à quantidade de colostro ingerido ou ao tamanho da ninhada.1,2 

Embora os ACM ajudem a proteger os filhotes de possíveis doenças, eles podem representar um desafio, pois neutralizam ou bloqueiam a imunidade conferida pelas vacinas.  Os ACM diminuem à medida que o tempo passa e é possível que, ao aplicar uma vacina, ela seja neutralizada pela alta quantidade de ACM tornando-se ineficaz para imunizar o filhote. Com o passar dos dias, esses ACM vão diminuindo e já não conseguem proteger o filhote, deixando-o suscetível a adoecer caso entre em contato com algum patógeno.   Isso é conhecido como “janela de susceptibilidade”. Em média, esse período ocorre entre 6 e 12 semanas de idade, mas pode durar até 16 semanas. O início da imunocompetência no filhote não pode ser previsto com precisão, e os protocolos de vacinação devem levar isso em consideração.1 Doses repetidas de vacina são administradas para minimizar a janela de suscetibilidade. Isso ocorre pois não se sabe quando os níveis de ACM diminuirão o suficiente para permitir a atividade imunológica da vacinação nos filhotes.2 

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Plano de vacinação em filhotes: Cães e Gatos

O Grupo de Diretrizes de Vacinação (em inglês VGG: Vaccination Guidelines Group) da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (sigla em inglês: WSAVA) recomenda iniciar a vacinação básica ou essencial entre 6 a 8 semanas de idade, repetindo a cada 2 a 4 semanas, até as 16 semanas de idade ou mais. O número de vacinas essenciais que um filhote receberá dependerá da idade em que a vacinação for iniciada e do intervalo entre as vacinas. Por exemplo, quando a vacinação é iniciada às 6 semanas de idade, 4 vacinas básicas serão administradas com 3 a 4 semanas de intervalo, mas apenas 3 serão necessárias se iniciadas às 9 semanas usando um intervalo semelhante de 3 a 4 semanas.  Recomenda-se que a última dose da série de vacinas essenciais seja administrada com 16 semanas de idade ou mais.3 

Dentro do esquema básico de vacinação para cachorros, é administrada uma vacina adicional, denominada “reforço”. Esta vacina é administrada aos 12 meses de idade ou 12 meses após a última dose da série primária de vacinas. 

Mais do que um “reforço”, esta vacina é para garantir o desenvolvimento de imunidade em filhotes que não responderam adequadamente a nenhuma das vacinas da série de vacinas essenciais. Se um filhote não respondeu a nenhuma das vacinas essenciais, pode ficar sem proteção até receber esta vacina aos 12 meses de idade. Por esta razão, a WSAVA no VGG agora recomenda que os veterinários possam reduzir a janela de suscetibilidade, antecipando esta vacina para a idade de 26 semanas em vez de 52 semanas. É importante explicar aos proprietários o motivo dessa decisão caso o veterinário implemente esta recomendação. No caso das vacinas essenciais, após a vacina de “reforço”, não será necessária outra vacina essencial por pelo menos mais 3 anos.  Isso dependerá, é claro, das leis, do tipo de vacina, das recomendações técnicas do fabricante e dos guias de vacinação de cada país.3 

Vacinação de filhotes que vivem em abrigos para animais

O início da vacinação básica deve ocorrer o mais cedo possível quando os filhotes vivem em abrigos, recomendando-se entre as 4 e 6 semanas de idade e a revacinação a cada 2 semanas até que o filhote atinja 20 semanas de idade caso ainda viva no abrigo.3

Categorias de vacinas

As vacinas foram classificadas em 3 tipos considerando-se o risco de contágio (veja tabela 1 e 2):3–5 

Vacinas básicas ou essenciais: São aquelas que todos os cães e gatos devem receber, independentemente de sua condição ou localização geográfica. As vacinas essenciais protegem os filhotes de doenças graves e mortais de distribuição global:3 

  • Cães: vacinas contra o vírus da cinomose canina (CDV), adenovírus canino (CAV) e parvovírus canino (CPV).
  • Gatos: vacinas contra o parvovírus felino (FPV), calicivírus felino (FCV) e herpesvírus felino-1 (FHV-1). A vacina contra a leucemia felina (FeLV) em filhotes com menos de 1 ano de idade é considerada essencial. 6 
  • Em lugares onde a infecção pelo vírus da raiva é endêmica ou em filhotes que residem em abrigos, a vacinação contra a raiva deve ser considerada essencial, mesmo que não esteja incluída legalmente no esquema de vacinação essencial.

Vacinas não essenciais: São requeridas apenas para animais cuja localização geográfica, ambiente local ou estilo de vida os colocam em risco de contrair infecções específicas.

  • Cães: vacinas contra o vírus da parainfluenza, Bordetella bronchiseptica, Borrelia burgdorferi (doença de Lyme) e leptospirose, vírus da influenza canina.
  • Gatos: vacinas contra o vírus da imunodeficiência felina, leucemia felina (essencial para gatos menores de 1 ano), clamídia felina e Bordetella bronchiseptica.

As vacinas não essenciais só devem ser administradas se consideradas necessárias. Por exemplo, a vacina contra Bordetella bronchiseptica deve ser administrada em filhotes de alto risco (de ambas as espécies) ou que residem em abrigos. 

Vacinas não recomendadas: São vacinas em que há pouca evidência científica para justificar o seu uso, não estão presentes em uma determinada área geográfica ou estão restritas. A vacina contra o coronavírus não é recomendada para ambas as espécies e a vacina contra Giardia não é recomendada para filhotes caninos. Para gatinhos, a vacina contra a peritonite infecciosa felina também não é recomendada.7 

Tabela 1. Guia sugerido do esquema vacinal para cães 3,4,7,8 
Filhotes de cães
IdadeVacinas essenciaisVacinas não essenciais
6 a 8 semanasDHP (cinomose, adenovírus canino, parvovírus canino).Bordetella bronchisepticaParainfluenza canina
10 a 12 semanasDHPRaiva: pode começar a ser aplicada (verificar regramento por país). Parainfluenza Canina, Leptospirose, Bordetella bronchiseptica e Doença de Lyme (a depender do estilo de vida do filhote).
16 a 18 semanasDHPParainfluenza Canina, Leptospirose, Bordetella bronchiseptica e Doença de Lyme (a depender do estilo de vida do filhote).
12 a 18 mesesDHP, RaivaParainfluenza Canina, Leptospirose, Bordetella bronchiseptica e Doença de Lyme (a depender do estilo de vida do filhote).
Tabela 2. Guia sugerido do esquema vacinal para gatos 3,5,6,8
Filhotes de gatos
IdadeVacinas essenciaisVacinas não essenciais
6 a 8 semanasCalicivírus felino, herpesvírus felino e parvovírus felino.Panleucopenia viral felinaBordetella bronchiseptica.  Vírus da imunodeficiência (embora alguns autores não recomendem seu uso em filhotes).7 
10 a 12 semanasCalicivírus felino, herpesvírus felino e Panleucopenia viral felina.Leucemia viral felina.Clamídia felina e vírus da imunodeficiência. 
16 a 18 semanasCalicivírus felino, herpesvírus felino e Panleucopenia viral felina.Raiva e Leucemia viral felina.Clamídia felina e vírus da imunodeficiência.
12 a 18 mesesCalicivírus felino, herpesvírus felino e Panleucopenia viral felina.Administrar outra dose para Leucemia felina um ano após a segunda dose.Administrar a vacina antirrábica um ano após a primeira dose.Vírus da imunodeficiência: dose única, 1 ano após a última série inicial.

Bibliografia

  • Cadier J. Actualizaciones en vacunología canina: ¿cómo adaptar el protocolo vacunal a cada animal?. La Granja Rev Ciencias la Vida 2015;22:58–64.
  • 2. Böhm M. Current vaccination strategies in dogs and cats. In Pract 2009;31:2–7.
  • 3. Day MJ, Horzinek MC, Schultz RD, et al. Directrices para la vacunación de perros y gatos. Compilado por el grupo de las directrices de vacunación (VGG) de la asociación mundial de veterinarios de pequeños animales (WSAVA). J Small Anim Pract 2016;57:E1–E51.
  • 4. Aguilar Bobadilla J, Iturbe Cossío TL, Basurto Alcántara FJ, et al. Guías de Vacunación para perros y gatos COLAVAC-FIAVAC-México. Parte 2. Vanguard Vet 2018. Available at: https://www.vanguardiaveterinaria.com.mx/guias-de-vacunacion-colavac-fiavac.
  • 5. Iturbe Cossío TL, Aguilar Bobadilla J, Basurto Alcántara FJ, et al. Guías de Vacunación para perros y gatos COLAVAC-FIAVAC-México. Parte 1. Vanguard Vet 2017:14–29. Available at: http://www.vanguardiaveterinaria.com.mx/83-sep-oct-2017?lightbox=dataItem-j6o3zfri.
  • 6. Stone AES, Brummet GO, Carozza EM, et al. 2020 AAHA/AAFP Feline Vaccination Guidelines. J Am Anim Hosp Assoc 2020;56:249–265.
  • 7. Davis-Wurzler GM. 2013 Update on Current Vaccination Strategies in Puppies and Kittens. Vet Clin Small Anim 2014;44:235–263.8. Rubio V, Corpac V, Las Garzas V, et al. Guías para la vacunación de perros (caninos) y gatos (felinos) en Perú Vaccination guidelines for dogs (canine) and cats (feline) in Peru. Rev Inv Vet Perú 2018;29:1463–1474.

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