Pecuária

Tristeza parasitaria bovina: como prevenir babesiose e anaplasmose bovinas

30 abril 2022

Com altas taxas de mortalidade e sintomas que resultam em prejuízos econômicos, a tristeza parasitária bovina deve ser prevenida e controlada nas fazendas

A tristeza parasitária bovina pode ser considerada a doença transmitida por carrapatos mais economicamente relevante para a pecuária pelos altos índices de mortalidade. Trata-se de um complexo de doenças causadas por um ou mais agentes infecciosos, que são os protozoários Babesia bovis e B. bigemina e a riquétsia Anaplasma marginale, todos transmitidos por via transovariana através do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus, conhecido como carrapato-de-boi.

A babesiose e a anaplasmose são enfermidades que integram esse complexo, e elas são agrupadas como tristeza parasitária bovina por compartilharem o mesmo agente etiológico, apresentarem sintomas em comum e também terem o mesmo tratamento. O médico-veterinário especialista em bovinos Luciano Julio Bussi nos deu mais informações sobre como prevenir a tristeza parasitária bovina, permitindo uma análise sobre os impactos desse complexo de doenças na fazenda.

Babesiose e anaplasmose resultam na diminuição da engorda e da produção de leite

Os principais sintomas das doenças babesiose e anaplasmose, que compõem a tristeza parasitária bovina, são: anorexia, anemia, taquicardia, taquipnéia, icterícia (amarelamento da pele e do branco dos olhos causados pelo acúmulo de bilirrubina no sangue), depressão, redução da lactação e dos movimentos ruminais. Apesar de compartilharem a maioria dos sinais clínicos, cada doença também tem suas particularidades. Na anaplasmose, é comum que a urina adquira uma tonalidade marrom devido à presença de pigmentos biliares. Já na babesiose produzida por B. bigemina, uma hemólise intravascular é produzida, o que desencadeia anemia, hemoglobinemia e icterícia. Ao mesmo tempo, em B. bovis o  animal apresenta sintomas nervosos, como falta de coordenação motora e comportamento agressivo.

Além de culminar em taxas de mortalidade significativas, a tristeza parasitária bovina tem um importante impacto na produção da fazenda, já que os animais infectados apresentam queda na engorda e na produção do leite. ”A morte de animais, abortos, custos com tratamentos e honorários profissionais, bem como a diminuição dos índices de produção, são as principais causas dos prejuízos econômicos. A mortalidade pode ser superior a 30% em rebanhos que não possuem imunidade contra essas doenças”, acrescenta Bussi.

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Como prevenir a tristeza parasitária bovina através do controle do carrapato-de-boi

No livro “Carrapatos na cadeia produtiva de bovinos“, os autores Renato Andreotti, Marcos Valério Garcia e Wilson Werner Koller citam os desafios do controle desse complexo de doenças. Um deles é a dificuldade ao redor da vacina para tristeza parasitária bovina. Apesar de ela existir e teoricamente ser a forma mais eficaz de prevenção, na prática, a vacina viva atenuada contra essas enfermidades têm processos complexos e disponibilidade limitada.

Por isso, o controle da doença é o controle do carrapato do Rhipicephalus (Boophilus) microplus. O protocolo de controle varia de acordo com a localização da fazenda, já que o ciclo de vida do carrapato-de-boi muda em diferentes regiões. Por exemplo: em áreas tropicais, os vetores desenvolvem quatro gerações por ano, mas em áreas marginais, são apenas três, porque o carrapato não se desenvolve nas baixas temperaturas do inverno.

Porém, o controle do carrapato-de-boi também é uma função que encontra barreiras. De acordo com a publicação, apesar do controle do vetor ser indispensável para prevenção da tristeza parasitária bovina, a erradicação do Rhipicephalus (Boophilus) microplus não é benéfica. Isso porque os bovinos precisam ter um contato limitado aos vetores para desenvolver imunidade (cerca de uma exposição leve anual para animais adultos). É evidente que todo esse processo deve ser feito sob recomendação e vigilância de profissionais especializados, porque as medidas variam de caso a caso.

O médico-veterinário detalha o controle indicado para os agentes infecciosos da anaplasmose e da babesiose (que tem mais de seis cepas): ‘‘B. bovis é transmitida exclusivamente por larvas de R. microplus, enquanto B. bigemina é transmitida por ninfas e adultos. Por esse motivo, o período de incubação da babesiose por B. bovis é menor do que no caso de B. bigemina e, às vezes, não vemos carrapatos adultos e podemos confundir o diagnóstico. Portanto, para reduzir as perdas econômicas, uma carga entre 20 e 30 carrapatos adultos deve ser mantida. Em relação ao A. marginale, devido à sua forma de transmissão, também é necessário controlar o número de carrapatos adultos em 30, mas também, devido à sua forma mecânica por dípteros hematófagos, o número deles também deve ser controlado. Uma forma muito eficiente é a utilização de caravanas de mosquitos, que apresentam, em sua maioria, alta letalidade. Em relação à forma iatrogênica por fômites, as boas práticas de higiene e o uso de material descartável para cada indivíduo são as melhores opções”.

Como a anaplasmose também pode ser transmitida através de moscas, esse controle também deve ser feito, principalmente na época de chuvas, quando a população de dípteros hematófagos é maior.

Contato do animal com o carrapato-de-boi deve ser acompanhado com o tratamento para tristeza parasitária bovina 

O tratamento medicamentoso da tristeza parasitária bovina quando aplicado durante o período de incubação da anaplasmose estimula o desenvolvimento da resistência natural do hospedeiro e é capaz de retardar o período de incubação da anaplasmose. A quimioprofilaxia medicamentosa pode ser realizada em todo o rebanho ao surgimento dos primeiros animais doentes ou mortos.

Além do medicamento, boas práticas também devem ser seguidas: ”Para os casos de animais afetados e que devem ser tratados individualmente, proceder de acordo com o seguinte plano: aumentar o roteiro dos lotes das fazendas, para detectar precocemente os afetados; tratar os animais doentes cedo e no local onde se encontram, pois não se recomenda o pastoreio destes, pois podem morrer com o esforço”, conclui Bussi.

Entende-se, portanto, que a tristeza parasitária bovina é a doença transmitida por carrapatos de maior relevância na pecuária. Os prejuízos econômicos estão atrelados à especificidade do protocolo de controle e prevenção, já que a vacina está disponível apenas em alguns países, como a Argentina, e a exposição moderada aos vetores deve ser meticulosamente programada. Todo esse processo é indicado para evitar que sintomas causem queda na produção de leite e na engorda, já que a babesiose e a anaplasmose afetam diretamente o rúmen.

* Luciano Julio Bussi é mestre em Ciências Veterinárias e especialista em Reprodução Bovina pelo Instituto de Reprodução de Córdoba (IRAC) em conjunto com a Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Nacional de Córdoba. É representante técnico comercial de Bovinos na MSD Saúde Animal.

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