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Leptospirose: Manejo, controle e tratamento em bovinos

A leptospirose é uma zoonose infecciosa com distribuição mundial, que ocorre com maior frequência em regiões de clima úmido, tropical e subtropical. Em bovinos, esta doença pode causar abortos, infertilidade, diminuição da produção de leite e carne, bem como a morte do animal em casos graves. Portanto, é fundamental conhecer e aplicar as medidas de manejo, controle e tratamento da leptospirose em bovinos.

Causas e sinais clínicos da leptospirose em bovinos

As bactérias causadoras da leptospirose pertencem ao gênero Leptospira e os sorovares de maior prevalência isolados ao diagnóstico são: hardjo, pomona e icterohaemorrhagiae1.

As diferentes variedades de Leptospira podem afetar uma grande variedade de hospedeiros, incluindo roedores, gado e outros animais domésticos, enquanto os humanos atuam como hospedeiros acidentais. Os animais no estado de portadores podem excretar leptospiras intermitentemente por vários anos ou mesmo por toda a vida. 

Este gênero de bactérias também pode sobreviver por 6 meses em ambientes úmidos com água estagnada em uma amplitude de temperaturas entre 10 e 34 °C2.

Em animais suscetíveis a infecção pode ocorrer através das membranas mucosas (boca, nariz, olhos, vulva, vagina) e pele danificada. Em bovinos, a transmissão direta pode ocorrer através de fluidos corporais, como urina, leite, secreção uterina pós-parto e sêmen de machos infectados (geralmente durante a cópula). A transmissão também se dá por via transplacentária ou durante a lactação (bezerros). Já a transmissão indireta ocorre pelo contato com pastagens, solos, alimentos e bebida contaminados com fluidos de outros animais3

O período de incubação da doença varia entre 2 e 7 dias. Depois de penetrar o organismo a bactéria se difunde rapidamente pelos sistemas circulatório e linfático, replicando-se nos rins.

Um dos sinais mais frequentes, que deve levar o veterinário a suspeitar de uma possível leptospirose, são os abortos em gestações com mais de 5 meses onde o feto apresenta coloração marrom-amarelada. Outros sinais possíveis clínicos podem ser4:

  • Hipertermia
  • Anorexia
  • Letargia
  • Icterícia
  • Anemia
  • Urina marrom avermelhada
  • Epífora
  • Retenção de placenta
  • Repetição de estro
  • Infertilidade
  • Queda na produção de leite ou agalaxia transitória
  • Leite coagulado, espesso e amarelo
  • Natimortos
  • Nascimento de bezerros debilitados
  • Morte (especialmente em bezerros/terneiros)

Diagnóstico e tratamento da leptospirose em bovinos

Para um diagnóstico preciso, o veterinário deve examinar clinicamente o rebanho e sempre confirmar o diagnóstico por meio de exames laboratoriais, coletando amostras de um pool de animais suspeitos, dando atenção especial aos animais com distúrbios do estro ou dificuldades para emprenhar. 

Os exames laboratoriais mais utilizados para confirmar o diagnóstico de leptospirose são a cultura, o teste ELISA, a imunofluorescência e a PCR7.

Em relação ao tratamento, os antibióticos são essenciais para minimizar a excreção urinária e a transmissão entre os animais. Os antibióticos mais comumente usados incluem penicilina, amoxicilina e tetraciclina. Caso algum animal apresente sintomas de leptospirose é importante iniciar o tratamento o mais precocemente possível para evitar complicações e a disseminação da doença.

Quando a leptospirose é diagnosticada em vacas prenhes durante a fase inicial da epidemia, novos abortos podem ser evitados pela vacinação imediata de todo o rebanho. É crucial notar que uma vez que os sintomas renais se instalam, o tratamento tem impacto limitado na progressão da doença. Portanto, a detecção precoce e a intervenção rápida são essenciais para evitar a propagação da doença e minimizar seus efeitos sobre o gado.

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Medidas de prevenção e controle da leptospirose em bovinos

A leptospirose é uma doença potencialmente epidêmica que pode ocorrer após fortes chuvas, furacões ou inundações, conforme relatado pela Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde5

Além disso, pode ser um risco ocupacional para quem trabalha com animais ou lavouras, como pecuaristas, agricultores, veterinários e produtores de leite. Por esses motivos, é um problema de saúde pública humana e veterinária que requer atenção.

A prevenção e controle da leptospirose em bovinos é fundamental para evitar a propagação da doença e proteger a saúde dos animais. As recomendações do SENASA incluem6:

  • Manter as instalações limpas e secas, sem áreas com água estagnada ou lodo
  • Evitar contato com água e solo contaminados com urina de animais infectados
  • Controlar a população de roedores
  • Vacinar o gado e manter um registro das vacinas aplicadas
  • Evitar a superlotação de animais
  • Os trabalhadores devem estar protegidos através do uso de calçados e vestimentas de acordo com a tarefa executada.

Atualmente, existem vacinas polivalentes que protegem contra os sorovares mais comuns de Leptospira em bovinos. A aplicação é recomendada para vacas e novilhas nulíparas saudáveis com no mínimo 6 meses de idade e proceder reaplicações anuais. Machos reprodutores também podem ser vacinados. É importante estabelecer um calendário vacinal adaptado a cada estabelecimento e condição ambiental, bem como manter um registo das vacinas aplicadas para garantir a eficácia da vacinação.

Na prevenção da leptospirose como zoonose, os médicos veterinário tem papel fundamental. Eles são responsáveis por implementar medidas de prevenção e controle nos animais para evitar a propagação da doença. Além disso, eles podem informar aos proprietários sobre os riscos da leptospirose e as medidas que estes podem tomar para prevenir o contágio tanto em seus animais quanto nas pessoas que com eles convivem.

Referências:

  1. http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0375-07602002000100006
  2. Rodning, S. P., Edmonson, M. A., Gard, J. A., & Lovelady, A. S. (2012). Leptospirosis in Cattle. Alabama A&M University and Auburn University. Alabama Cooperative Extension System, ANR-0858.
  3. https://www.researchgate.net/profile/Francisco-Garcia-Pena/publication/28124788_Epidemiologia_diagnostico_y_control_de_la_leptospirosis_bovina/links/0046351a092e97f43e000000/Epidemiologia-diagnostico-y-control-de-la-leptospirosis-bovina.pdf
  4. https://www.clubganadero.com/blog/leptospirosis-bovina.html
  5. https://www.paho.org/es/temas/leptospirosis
  6. https://www.senasa.gob.ar/senasa-comunica/noticias/prevencion-de-la-leptospirosis-en-las-producciones-  ganaderas
  7. https://www.woah.org/fileadmin/Home/esp/Health_standards/tahm/3.01.12_Leptospirosis.pdf

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