Pecuária

Doença respiratória bovina associada à Mannheimia haemolytica

A doença respiratória bovina (DRB) é um grupo de infecções bacterianas e virais com sintomas respiratórios graves em bovinos. Essa síndrome tem um impacto significativo na saúde, no bem-estar e na produtividade do gado, pois é responsável por perdas significativas no setor relacionadas à alta morbidade e mortalidade (50-70%), à redução da eficiência da produção e aos altos custos associados ao tratamento.

A SRB afeta principalmente animais jovens, entre 6 meses e 2 anos de idade, com maior incidência em rebanhos de engorda. A síndrome também pode ocorrer em rebanhos leiteiros voltados para a criação de novilhas de reposição.

A Mannheimia haemolytica (M. haemolytica) é uma das principais causas da SRB. Embora essa bactéria faça parte da microbiota normal do trato respiratório superior em bovinos saudáveis, ela é considerada um patógeno oportunista, capaz de colonizar o trato respiratório inferior, com tropismo pelos lobos pulmonares, onde os sorotipos A1 e A6 são os mais comumente isolados.

A doença respiratória bovina tem um impacto significativo na saúde, no bem-estar e na produtividade do gado

Patogênese, fatores de risco e achados clínicos

A complexidade da infecção por M. haemolytica no contexto da SRB reside em sua natureza multifatorial. O estresse, a imunossupressão e as infecções virais agem sinergicamente, causando doença clínica em animais suscetíveis, e podem atuar como agentes primários ou secundários, sendo que o principal fator de virulência em ruminantes é a leucotoxina.

Os vírus que causam a Diarreia Viral Bovina (DVB), a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (RIB), a Parainfluenza Tipo 3 (PI-3) e o Vírus Sincicial Respiratório Bovino (VSRB) estão entre os patógenos mais frequentemente associados a essa síndrome. Esses vírus imunossupressores causam danos substanciais ao tecido pulmonar e, portanto, criam uma janela para o estabelecimento da infecção.

Certas práticas de gerenciamento de rotina em fazendas de gado são altamente estressantes para os animais. O transporte é o fator de risco mais reconhecido para a infecção. No entanto, mudanças extremas de temperatura, desidratação prolongada, mistura de rebanhos ou alta densidade de estocagem são fatores externos que predispõem ao estresse e, consequentemente, à doença.

Quando esses três fatores se juntam, a M. haemolytica inicia um processo de replicação rápida na orofaringe. O aumento da carga bacteriana local favorece sua inalação e a subsequente colonização dos pulmões, onde ela se aloja persistentemente.

Clinicamente, a infecção é caracterizada por pneumonia grave e toxemia.  Os sinais clínicos incluem febre, depressão, hiporexia ou anorexia, tosse úmida, secreção nasal serosa ou mucopurulenta e dispneia, inclusive morte súbita.

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Manejo e tratamento

A principal estratégia para controlar a infecção clínica é o uso de antibióticos. Eles são combinados com analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios não esteroidais.

Antibióticos como Ceftiofur, Enrofloxacina, Florfenicol, Danofloxacina e Tetraciclina estão entre as opções para o tratamento eficaz de infecções por Mannheimia haemolytica e Pasteurella multocida.

Como prevenir a infecção por Mannheimia Haemolytica em bovinos?

A vacinação é um elemento fundamental de um plano abrangente de gerenciamento da saúde do rebanho. A vacinação deve ser considerada para fornecer proteção contra a leucotoxina. Esse plano também deve considerar boas práticas de criação e bem-estar animal, que contribuirão para reduzir a incidência da Síndrome Respiratória Bovina e de outras doenças que afetam a produção pecuária. Alguns elementos a serem considerados são:

  • Nutrição adequada – especialmente antes do desmame.
  • Melhorar as condições de transporte dos animais – considerar a escolha das rotas, o horário ideal para o transporte, as condições dos veículos, a duração do transporte e a capacidade máxima de carga.
  • Reduzir o estresse durante os procedimentos de rotina, como desmame, castração ou descorna – Considere o uso de analgésicos durante os procedimentos cirúrgicos e permita um tempo de recuperação adequado.
  • Adquirir animais de fazendas com bons registros de saúde.

Atualmente, existem várias opções de vacinação contra a M. haemolytica.As vacinas comercialmente disponíveis que utilizam tecnologias baseadas em bacterinas toxoides, cepas avirulentas ou atenuadas demonstraram eficácia e segurança ideais.

As vacinas combinadas são uma boa opção para proteger contra vários patógenos e devem ser selecionadas com base na epidemiologia local.

Como medida preventiva, pode ser escolhida uma vacina que gere proteção exclusiva contra M. haemolytica e Pasteurella multocida, os principais agentes bacterianos associados à doença respiratória. Entretanto, considerando a natureza multifatorial dessa doença, induzida por coinfecções polimicrobianas, o uso de vacinas multivalentes pode ser recomendado.  Essas formulações incluem M. haemolytica, Pasteurella multocida e patógenos virais que causam a rinotraqueíte infecciosa bovina, a diarreia viral bovina (tipos 1 e 2), a parainfluenza tipo 3 e o vírus sincicial respiratório bovino. Essas vacinas conferem uma proteção mais ampla, contribuindo para melhorar a saúde do rebanho em ambientes endêmicos de múltiplos patógenos. Em resumo, a prevenção e o controle da SRB exigem uma abordagem holística. O apoio técnico do veterinário é essencial para elaborar um plano abrangente para o manejo da M. haemolytica, incluindo a escolha do esquema de vacinação mais adequado para cada rebanho.

Referências 

  • Chen SY, Negri Bernardino P, Fausak E, Van Noord M, Maier G. Scoping Review on Risk Factors and Methods for the Prevention of Bovine Respiratory Disease Applicable to Cow-Calf Operations. Animals (Basel). 2022 Jan 29;12(3):334. doi: 10.3390/ani12030334. PMID: 35158660; PMCID: PMC8833575.
  • Gaudino, M., Nagamine, B., Ducatez, M.F. et al. Understanding the mechanisms of viral and bacterial coinfections in bovine respiratory disease: a comprehensive literature review of experimental evidence. Vet Res 53, 70 (2022). https://doi.org/10.1186/s13567-022-01086-1.
  • Bell RL, Turkington HL, Cosby SL. The Bacterial and Viral Agents of BRDC: Immune Evasion and Vaccine Developments. Vaccines (Basel). 2021 Apr 1;9(4):337. doi: 10.3390/vaccines9040337. PMID: 33916119; PMCID: PMC8066859.
  • Snyder E, Credille B. Mannheimia haemolytica and Pasteurella multocida in Bovine Respiratory Disease: How Are They Changing in Response to Efforts to Control Them? Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2020 Jul;36(2):253-268. doi: 10.1016/j.cvfa.2020.02.001. Epub 2020 Apr 21. PMID: 32327253.

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