A influenza aviária, também conhecida como gripe aviária, é causada por uma infecção por vírus de influenza tipo A que afeta tanto as aves comerciais quanto as aves silvestres em todo o mundo, podendo causar até a morte.
Continue lendo para se manter informado sobre a influenza aviária. Aprenda um pouco mais sobre as mudanças evolutivas dos vírus de RNA, sua propagação, os sinais clínicos e algumas estratégias de controle.
As mudanças evolutivas dos vírus de RNA
Como membro da uma família de vírus RNA (Orthomyxoviridae), os vírus da influenza aviária tipo A têm um genoma pequeno (10 000 bases) e uma alta taxa de mutação por base (1), o que permite a deriva antigênica, a mudança antigênica e a capacidade de evadir as respostas imunitárias adaptativas a longo prazo em muitos hospedeiros (2).
A nomenclatura das cepas do vírus da influenza aviária tipo A baseia-se nos subtipos de suas proteínas transmembrana hemaglutinina (HA1-16) e neuraminidase (NA1-9) (2), que se ligam aos resíduos de ácido siálico na superfície da célula hospedeira durante a invasão (3).
A propagação entre as aves, o salto zoonótico e quatro pandemias
Nas últimas duas décadas, a influenza aviária ressurgiu internacionalmente, principalmente devido a surtos de subtipos altamente patogênicos, como o H5N1, que se dissemina rapidamente entre aves aquáticas e aves migratórias silvestres (4).
Em fevereiro de 2022, um surto de H5N1 foi detectado em um lote de perus comerciais em Indiana, Estados Unidos, e se espalhou rapidamente para outros 46 estados em apenas 9 meses. Como resultado, o Serviço de Inspeção Sanitária de Animais e Plantas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (APHIS, na sigla em inglês) anunciou que irá avaliar o impacto ambiental das medidas de resposta (5).
Os danos causados pela influenza aviária não se limitam apenas à indústria avícola, mas também representam riscos de zoonoses e pandemias (6).
Entre as quatro pandemias zoonóticas causadas por cepas do vírus da influenza aviária tipo A, temos (7, 8):
- A “gripe espanhola” de 1918, na qual aproximadamente 50 milhões de pessoas pereceram devido à cepa H1N1.
- A “gripe asiática” de 1957, causada pela cepa H2N2.
- A “gripe de Hong Kong” de 1968, causada pela cepa H3N2.
- A “gripe suína” de 2009, causada por outra cepa do tipo N1H1.
Foram relatados casos de infecções humanas pelas cepas H5N1, H5N6 e H9N2 na Espanha, China e Vietnã nos últimos meses (9, 10). No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos e na Europa (CDC e EURL, respectivamente), declararam que as últimas cepas de influenza aviária detectadas têm baixo risco de transmissão zoonótica e recomendam aumentar as medidas de segurança contra possíveis infecções (7).
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Sinais clínicos
A severidade da influenza aviária é classificada de acordo com o nível de patogenicidade do vírus, que determina a sintomatologia e o prognóstico das aves afetadas. (11).
As cepas de influenza aviária altamente patogênicas, como H5N1 e H7N3, podem se espalhar rapidamente entre diferentes espécies de aves, tanto em aves silvestres quanto em aves comerciais. Essas infecções podem causar morte súbita (em até dois dias).
Alguns dos sinais que as aves afetadas por esses vírus podem apresentar são:
- Falta de apetite
- Falta de coordenação
- Falta de energia
- Falência múltipla de órgãos
- Descoloração e/ou inflamação sistêmica
- Diarreia
Esses sinais clínicos podem ocorrer isoladamente ou combinados, embora algumas cepas virulentas possam ser assintomáticas em patos (11, 12).
As cepas de influenza aviária de baixa patogenicidade causam sinais relativamente leves, como a queda da produção de ovos e penas eriçadas ou podem até mesmo não causar nenhum sintoma (11, 13). No entanto, surtos de cepas menos patogênicas devem ser controlados, pois podem evoluir, devido à pressão evolutiva, para surtos altamente patogênicos (14, 15).
Estratégias de controle
Muitos países da Europa e da América estão comprometidos em controlar cepas da influenza aviária de maior patogenicidade por meio de quarentenas e abate de animais (11). A China, maior produtora mundial de aves comerciais, além de realizar o abate, também está empenhada em desenvolver e atualizar vacinas para deter cepas virulentas, obtendo relativo sucesso contra surtos causados por cepas H5 recentes (15).
Para prevenir e controlar a propagação da influenza aviária é importante tomar medidas de proteção. Evitar o contato direto ou indireto com fontes de exposição.
No caso de aves silvestres, isso inclui contato com gotículas ou poeira no ar, tocar o animal infectado, ou estar exposto à sua saliva, mucosa ou fezes e levar a mão aos olhos, nariz e boca, em que pese não apresentarem sinais de doença. Se são aves domésticas, se parecem estar doentes ou morreram recentemente, é importante tomar medidas imediatas para evitar a propagação.
O pessoal que trabalha em contato próximo com aves deve sempre usar equipamento de proteção individual (por exemplo, luvas, respiradores N95 ou máscaras e macacões descartáveis) e praticar medidas adequadas de higiene pós-contato para evitar exposição e propagação (13, 16, 17).
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Referências
1. Belshaw R. What is special about RNA viruses? Trends in Ecology & Evolution. 2010;25(5):264-5.
2. Bouvier NM, Palese P. The biology of influenza viruses. Vaccine. 2008;26 Suppl 4(Suppl 4):D49-53.
3. Benton DJ, Wharton SA, Martin SR, McCauley JW. Role of Neuraminidase in Influenza A(H7N9) Virus Receptor Binding. Journal of Virology. 2017;91(11):e02293-16.
4. Salud OPdl. Influenza Aviar (N/D) [Available from: https://www.paho.org/es/temas/influenza-aviar].
5. USDA Animal and Plant Health Inspection Service (APHIS). Environmental Impact Statements; Availability, etc.: Highly Pathogenic Avian Influenza Control in the United States. 2022. Report No.: APHIS-2022-0055-0001. Available from: https://www.aphis.usda.gov/aphis/newsroom/federal-register-posts/sa_by_date/sa-2023/eis-hpai-control.
6. Wille M, Barr IG. Resurgence of avian influenza virus. Science. 2022;376(6592):459-60.
7. Parums DV. Editorial: Global Surveillance of Highly Pathogenic Avian Influenza Viruses in Poultry, Wild Birds, and Mammals to Prevent a Human Influenza Pandemic. Med Sci Monit. 2023;29:e939968.
8. Lycett SJ, Duchatel F, Digard P. A brief history of bird flu. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2019;374(1775):20180257.
9. European Food Safety Authority; European Centre for Disease Prevention Control; European Union Reference Laboratory for Avian Influenza, Adlhoch C, Fusaro A, Gonzales JL, Kuiken T, Marangon S, et al. Avian influenza overview September – December 2022. EFSA Journal. 2023;21(1):e07786.
10. Nishiura H, Kayano T, Hayashi K, Kobayashi T, Okada Y. Letter to the Editor: Knowledge gap in assessing the risk of a human pandemic via mammals’ infection with highly pathogenic avian influenza A(H5N1). Euro Surveill. 2023;28(9):2300134.
11. CDC. Influenza aviar en las aves 2022 [Available from: https://espanol.cdc.gov/flu/avianflu/avian-in-birds.htm].
12. Administración de Seguridad y Salud Ocupacional. La Gripe Aviar | Encargados de Trabajar con Animales (No Empleados de Granjas Avícolas). Departamento de Trabajo de los EE. UU.; (N/D).
13. CDC. La Gripe Aviar – Temas de salud y seguridad de NIOSH 2019 [Available from: https://www.cdc.gov/spanish/niosh/topics/aviar.html].
14. Kanaujia R, Bora I, Ratho RK, Thakur V, Mohi GK, Thakur P. Avian influenza revisited: concerns and constraints. Virusdisease. 2022;33(4):456-65.
15. Shi J, Zeng X, Cui P, Yan C, Chen H. Alarming situation of emerging H5 and H7 avian influenza and effective control strategies. Emerg Microbes Infect. 2023;12(1):2155072.
16. CDC. Prevención y tratamiento con antivirales de infecciones por el virus de la influenza aviar en personas 2023 [Available from: https://espanol.cdc.gov/flu/avianflu/prevention.htm].17. CDC. Infecciones de influenza aviar de tipo A en humanos 2022 [Available from: https://espanol.cdc.gov/flu/avianflu/avian-in-humans.htm].