Avicultura

O que é Salmonella e quais suas medidas de controle em aves

23 setembro 2022

A salmonelose em aves é uma ameaça para produção avícola e para a saúde pública, e por isso galinhas devem estar vacinadas contra a doença

Salmonella é um gênero de bactérias da família Enterobacteriaceae, que apesar de ser conhecido em animais e em humanos há mais de um século, tem uma classificação bastante extensa e complexa que pode gerar dúvidas. A infecção em galinhas causa três doenças: pulorose, tifo aviário e paratifo aviário. Estudos apontam que a Salmonella é uma importante ameaça para a avicultura e saúde pública mundial. Conversamos com a mestre em Medicina Veterinária Thaiane Kasmanas sobre os efeitos da Salmonella em aves e como fazer o controle da bactéria na granja.

Entenda as especificidades da Salmonella em aves

As salmonelas são bactérias extremamente heterogêneas, que se dividem em duas espécies: Salmonella bongori e Salmonella enterica, sendo a última a mais conhecida, com 2610 sorotipos confirmados atualmente. Entre os milhares de sorotipos, aproximadamente 90 são os mais comuns em casos de infecções de seres humanos e animais. Ou seja, esse gênero de bactérias tem uma abordagem extremamente ampla, e é preciso fazer um recorte para entender as características específicas da Salmonella em aves.

“São bactérias gram-negativas em forma de bacilo e, na sua maioria, são móveis por possuírem flagelos. Porém, existem dois sorotipos muito importantes na avicultura que são imóveis, a Salmonella Pullorum e a Salmonella Gallinarum. Entretanto, esses sorotipos são específicos das aves e não acometem os seres humanos. Dentre os outros sorovares, existem dois mais prevalentes e que são patogênicos para aves e muito patogênicos para os seres humanos, a Salmonella Enteritidis e a Salmonella Typhimurium. Outras salmonelas também estão presentes na avicultura como Salmonella Agona, Salmonella Heidelberg, Salmonella Seftenberg dentre outras”, afirma a médica-veterinária.

Salmoneloses aviárias são uma grande ameaça para a produção

As doenças causadas por salmonelas em aves são chamadas de salmoneloses aviárias e as principais são a pulorose, tifo aviário e paratifo aviário. “A infecção inicia-se por via oral. A bactéria chega na mucosa do intestino e invade a célula epitelial na superfície apical, onde induz a ruptura e o afastamento das microvilosidades provocando a endocitose, ou seja, a Salmonella migra através das células. Porém, as salmonelas possuem a habilidade de se multiplicar dentro dessas células e tal característica permite o desencadeamento da doença dentro do organismo do hospedeiro. Devido às salmonelas realizarem uma fase do ciclo de vida dentro das células de seus hospedeiros, a resposta imune humoral (produção de anticorpos específicos – IgG) não é capaz de eliminar a infecção sistêmica”, explica Thaiane. 

A manifestação das salmoneloses depende de qual agente etiológico está acometendo os animais. Os sintomas observados nas aves devem ser acompanhados, mas o diagnóstico conclusivo só é possível com o isolamento bacteriano. A mestre em Medicina Veterinária detalha cada uma das três principais salmoneloses aviárias:

  • Pulorose: ”É considerada uma doença de animais jovens, principalmente nos primeiros dias de vida. A transmissão acontece da galinha infectada para os pintos via transovariana (transmissão vertical). As taxas de mortalidade e morbidade da pulorose são altas e as aves se apresentam sonolentas, sem apetite e com retardo no crescimento. Os sintomas da pulorose em galinhas poedeiras adultas não são específicos e normalmente se observa redução dos índices de produção como queda da postura e diminuição da fertilidade e eclodibilidade no caso de aves reprodutoras”. O artigo “Salmonelose Aviária”, publicado na Research, Society and Development, aponta que diversos países, como os Estados Unidos, Japão e Canadá, já erradicaram a pulorose nas aves da produção, mas a doença segue causando perdas significativas nas aviculturas de países em desenvolvimento.
  • Tifo aviário: “Causado pela Salmonella Gallinarum, geralmente é observado em aves adultas. Os animais ficam prostrados, param de se alimentar e apresentam diarreia esverdeada. Nessa doença também são observadas altas taxas de mortalidade e morbidade, sendo que a morte é rápida, entre 5 a 7 dias, porém não acontece de uma só vez. Algumas aves ficam doentes e entre elas, algumas morrem, depois de alguns dias este quadro se repete várias vezes o que gera um grande prejuízo para a cadeia produtiva”.
  • Paratifo aviário: “Quando a salmonelose é de origem das demais salmonelas, o diagnóstico da doença é o paratifo aviário. Nesse caso, pode acometer aves jovens e adultas e as taxas de mortalidade e morbidade dependem da intensidade da infecção e do sorotipo envolvido. Quanto mais invasiva a salmonela, mais agressivo e mais severo será o quadro da doença. No entanto, a taxa de mortalidade tende a ser menor quando comparada com a pulorose ou o tifo aviário. As aves apresentam retardo no crescimento, apatia, com as penas arrepiadas e perdem o apetite”.

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Como prevenir e controlar surtos de Salmonella na granja

As salmonelas são transmitidas de maneira vertical (transovariana) e horizontal, através da ingestão de alimentos e água contaminados pela disseminação fecal-oral. Portanto, a prevenção e controle de surtos das salmonelas Salmonella Gallinarum, Salmonella Pullorum, Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium consistem em vacinação em conjunto com medidas de biosseguridade. “Existem algumas linhagens de aves mais resistentes às salmonelas e isso acontece porque possuem macrófagos mais eficazes no combate da infecção. Porém, nem sempre o organismo das aves consegue produzir uma resposta imune (celular e humoral) efetiva na eliminação da Salmonella. Dessa forma, a bactéria persiste no organismo das aves sem ser eliminada pelo sistema imune, ou seja, a ave manifesta a doença e, após a melhora, aloja o patógeno tornando-se fonte de infecção para outras aves”, acrescenta Thaiane.

A vacinação contra a Salmonella é a forma mais efetiva de controle das salmoneloses aviárias. A vacina formulada com a versão inativada dos sorovares Enteritidis e Typhimurium, cumpre dois objetivos desejados: a proteção animal e a segurança dos produtos de origem animal. “Além de proteger as aves e reduzir a taxa de morbidade da doença, reduz a disseminação dessas salmonelas envolvidas em surtos de toxinfecção alimentar em seres humanos e traz mais segurança para o consumidor”, diz Thaiane.

Um protocolo de biosseguridade deve ser seguido junto com o plano de vacinação. A mestre em Medicina Veterinária lista as medidas: “Atenção com os dejetos e um bom manejo da cama utilizada na produção, além da correta e rápida destinação das aves mortas. Cuidados com as possíveis fontes de contaminação como a ração, veículos, pássaros, roedores, moscas e outras espécies de aves ou demais animais devem estar sempre no radar dos veterinários que atuam na avicultura. O monitoramento sorológico e bacteriológico deve acontecer de forma sistemática em todas as granjas, a fim de garantir uma visão geral da situação sanitária do plantel”.

De acordo com o artigo “Salmonelose Aviária“, publicado na Research, Society and Development, medidas rigorosas contra zoonoses devem ser seguidas para que atividades agrícolas de países produtores como o Brasil se mantenham internacionalizadas. Segundo a médica-veterinária, o sistema intensivo de criação da avicultura industrial exige atenção redobrada por favorecer a introdução, instalação, permanência e disseminação das salmonelas. Com um contato próximo, as aves saudáveis ingerem as fezes contaminadas pelas aves doentes, fechando o ciclo da doença.

A Salmonella em aves gera um alerta maior por ser uma ameaça conhecidamente devastadora às produções avícolas. Porém, o programa de vacinação ideal para prevenção e controle das diversas doenças de galinhas que causam danos econômicos também deve abranger outras vacinas, como as que protegem contra a doença de Marek, de Newcastle, bronquite infecciosa e reovírus aviário.

* Thaiane Kasmanas (CRMV-SP: 34.857) é graduada em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista (FCAV/Unesp).

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