Avicultura

Importância de reduzir o impacto do estresse calórico para otimizar o bem-estar, a produtividade e a qualidade das aves comerciais

A crescente demanda mundial por aves comerciais, aliada às mudanças climáticas, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, tem causado a necessidade de desenvolver e adotar estratégias adequadas de manejo, nutrição e vigilância de doenças. Tudo isso com o objetivo de reduzir as consequências das altas temperaturas, promover a função imunológica e otimizar a produção de ovos e carne de frango (1, 2).  

​​A temperatura ideal para pintinhos é de 29,4° a 32,2°C. Esta é reduzida em 2,8°C a cada semana até atingir 21,1°C para frangos de corte (3) ou 19 a 22°C para galinhas poedeiras (4, 5). Por não possuírem glândulas sudoríparas (6), as aves ofegam e abrem as asas para realizar a termorregulação. No entanto, ​​submetidas a temperaturas ≥ 31°C por muito tempo, as aves podem sofrer estresse térmico ​devido ao aumento significativo da temperatura corporal (4, 6).  

De acordo com o índice de temperatura e umidade (ITU) desenvolvido por Zulovich e DeShazer em 1990 (7), o estresse térmico em galinhas poedeiras pode ser classificado em quatro níveis [conforto (ITU <70), alerta (ITU 70-75), perigo (ITU 76-81) e emergência (ITU >81)] com base nas respostas fisiológicas produzidas. Notadamente, diferentes combinações de temperatura e umidade podem produzir o mesmo ITU e respostas semelhantes (por exemplo, 26°C e 70% de umidade relativa ou 30°C e 30% de umidade relativa correspondendo a um ITU de 75) (5). 

O estresse calórico tem repercussões metabólicas e no sistema reprodutivo que comprometem a produção e a qualidade dos ovos (2, 6). Isso acontece já que as aves não são capazes de ofegar e comer ao mesmo tempo, portanto, em casos de calor extremo, o consumo reduzido de alimento leva a uma redução do peso corporal (8, 9), e consequentemente as galinhas carecem dos requisitos energéticos e minerais necessários para sustentar a taxa de postura, o peso do ovo, a qualidade da casca, e o valor nutricional do ovo (2, 6).  
 

O estresse térmico também afeta a fisiologia e o metabolismo (10). Essas mudanças se refletem na redução das taxas de crescimento e na deterioração da qualidade da carne. Especificamente, elas afetam a síntese de proteínas, reduzem a capacidade de reter água, reduzem o pH e aumentam os níveis de gorduras indesejadas e a perda por gotejamento (a perda de conteúdo muscular quando o músculo é convertido em carne), o que altera a cor, o sabor e a textura da carne de frango (10). 

As alterações imunológicas induzidas pelo estresse também tornam os frangos mais suscetíveis a doenças (2, 11). Em conjunto com a perda da integridade da barreira intestinal e a perturbação da microbiota intestinal, os mecanismos protetores inatos comprometidos permitem que patógenos, como Salmonella, Campylobacter e Escherichia coli, colonizem o trato intestinal e invadam o hospedeiro, tornando-se um risco potencial para a segurança alimentar (12). 

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Precisão do controle ambiental da granja  

Com o rápido desenvolvimento das empresas avícolas de grande escala, a vastidão e a alta densidade das granjas tornam os parâmetros ambientais (por exemplo, temperatura e umidade, luz, velocidade do vento, concentração de gases nocivos) cada vez mais complexos de controlar manualmente (13). Os sistemas de automação das granjas, que de maneira remota permitem controlar facilmente a climatização, a alimentação, a água, a iluminação e a contagem de ovos, podem otimizar a saúde e o bem-estar dos animais, o que implica um maior rendimento e lucro para os produtores.  
Além disso, esses sistemas podem minimizar o risco de zoonoses e, de uma maneira prática, liberar os produtores do trabalho tedioso. 

Novas abordagens incluem o uso de imagens térmicas infravermelhas para detectar a temperatura da superfície das aves (14) ou avaliar seu conforto térmico embasado nos padrões de distribuição das aves (15). Além disso, a análise dos sons específicos produzidos pelos frangos foi relacionada à resposta ao estresse (16) e ITU (17) por meio de machine learning. Embora essas técnicas estejam em desenvolvimento, combiná-las com sistemas de automação implicaria em potencial e substancial melhoria no controle de parâmetros ambientais em complexos avícolas. 

Referências: 

1. Lin H, Jiao H, Buyse J, Decuypere E. Strategies for preventing heat stress in poultry. World’s Poultry Science Journal. 2006;62(1):71-86. 

2. Vandana G, Sejian V, Lees A, Pragna P, Silpa M, Maloney SK. Heat stress and poultry production: impact and amelioration. International Journal of Biometeorology. 2021;65(2):163-79. 

3. Stewart-Brown B. Management of Growing Chickens 2022 [Available from: https://www.merckvetmanual.com/poultry/nutrition-and-management-poultry/management-of-growing-chickens

4. Felver-Gant JN, Mack LA, Dennis RL, Eicher SD, Cheng HW. Genetic variations alter physiological responses following heat stress in 2 strains of laying hens. Poultry science. 2012;91(7):1542-51. 

5. Kim DH, Lee YK, Kim SH, Lee KW. The Impact of Temperature and Humidity on the Performance and Physiology of Laying Hens. Animals (Basel). 2020;11(1). 

6. Kisboa JLC. Efecto del estrés calórico sobre la fisiología y calidad del huevo en gallinas ponedoras. REDVET Revista Electrónica de Veterinaria. 2013;14(7):1-15. 

7. Zulovich J, DeShazer J. Estimating egg production declines at high environmental temperatures and humidities. Paper-American Society of Agricultural Engineers. 1990(90-4021). 

8. Mack LA, Felver-Gant JN, Dennis RL, Cheng HW. Genetic variations alter production and behavioral responses following heat stress in 2 strains of laying hens. Poultry science. 2013;92(2):285-94. 

9. Barrett NW, Rowland K, Schmidt CJ, Lamont SJ, Rothschild MF, Ashwell CM, et al. Effects of acute and chronic heat stress on the performance, egg quality, body temperature, and blood gas parameters of laying hens. Poultry science. 2019;98(12):6684-92. 

10. Nawaz AH, Amoah K, Leng QY, Zheng JH, Zhang WL, Zhang L. Poultry Response to Heat Stress: Its Physiological, Metabolic, and Genetic Implications on Meat Production and Quality Including Strategies to Improve Broiler Production in a Warming World. Frontiers in Veterinary Science. 2021;8. 

11. Hirakawa R, Nurjanah S, Furukawa K, Murai A, Kikusato M, Nochi T, et al. Heat Stress Causes Immune Abnormalities via Massive Damage to Effect Proliferation and Differentiation of Lymphocytes in Broiler Chickens. Frontiers in Veterinary Science. 2020;7. 

12. Rostagno MH. Effects of heat stress on the gut health of poultry. J Anim Sci. 2020;98(4). 

13. Wu D, Cui D, Zhou M, Ying Y. Information perception in modern poultry farming: A review. Computers and Electronics in Agriculture. 2022;199:107131. 

14. Edgar J, Nicol CJ, Pugh C, Paul E. Surface temperature changes in response to handling in domestic chickens. Physiology & behavior. 2013;119:195-200. 

15. Pereira DF, Lopes FAA, Gabriel Filho LRA, Salgado DDA, Neto MM. Cluster index for estimating thermal poultry stress (gallus gallus domesticus). Computers and Electronics in Agriculture. 2020;177:105704. 

16. Jakovljević N, Maljković N, Mišković D, Knežević P, Delić V, editors. A broiler stress detection system based on audio signal processing. 2019 27th Telecommunications Forum (TELFOR); 2019: IEEE. 

17. Du X, Carpentier L, Teng G, Liu M, Wang C, Norton T. Assessment of laying hens’ thermal comfort using sound technology. Sensors. 2020;20(2):473.

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