Aquicultura

A amebíase branquial do salmão

A doença branquial amebiana (AGD, na sigla em inglês) ou amebíase branquial do salmão, foi descrita pela primeira vez em meados dos anos 80 na Tasmânia, Austrália, no salmão do Atlântico (Salmo salar) em centros de cultivo marinhos.1 

Atualmente a AGD se espalhou para diferentes localizações geográficas (Noruega, Escócia, Irlanda, Austrália, Chile), e é uma das doenças mais importantes do salmão do Atlântico.2 É muito provável que as mudanças climáticas, a expansão global e a intensificação da aquicultura aumentem o risco da doença.

Um manejo inadequado da AGD pode causar uma mortalidade entre 50 % e 85 % dos salmonídeos. 

Continue lendo para saber mais sobre a amebíase branquial do salmão, sua etiologia, fatores de risco, manejo e tratamento.

A amebíase branquial do salmão 

A AGD é uma doença crônica e com desenvolvimento relativamente rápido, que afeta não apenas as brânquias, mas também outros órgãos.2 

Durante toda a fase de água salgada, os salmonídeos de cultivo podem ser afetados pela doença, mas os peixes são mais suscetíveis durante seu primeiro outono no mar.6 

Embora a doença afete principalmente o salmão do Atlântico, outros salmonídeos podem ser afetados, como o salmão Coho (Oncorhynchus kisutch), salmão Chinook (Oncorhynchus tshawytscha), truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e truta marrom (Salmo trutta).2,3 

Etiologia da amebíase branquial do salmão

O agente causal da AGD é o protozoário Neoparamoeba perurans, que é uma ameba parasita e de vida livre.4 Este parasita tem um diâmetro aproximado de 40 a 56 μm e se multiplica por divisão.5 

Quadro clínico da amebíase branquial do salmão

Os peixes afetados pela amebíase branquial do salmão normalmente apresentam:

  • Letargia.
  • Anorexia.
  • Diminuição da velocidade de natação.
  • Dificuldade respiratória (taxa de ventilação aumentada).7 

No exame clínico, os peixes apresentam manchas multifocais ou áreas de tecido branquial inflamado de cor branca ou cinza, com excesso de muco ao redor dos arcos branquiais.

Na histologia, ocorre hiperplasia das células epiteliais branquiais, tanto nos filamentos primários como secundários (lamelas), o que leva a um aumento da espessura do epitélio branquial. 

Essas lesões nas brânquias produzem uma alteração na troca de gases e na regulação ácido-base e, consequentemente, na função respiratória e metabolismo geral.2,8 

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Fatores de risco da amebíase branquial do salmão

Os principais fatores de risco relacionados à AGD são:

  • Água com temperatura elevada (a faixa ótima para o desenvolvimento de AGD é de 10 a 18 °C).

A alta salinidade (> 32 ppt ou partes por trilhão). Quando a salinidade da água do mar cai abaixo de 28 partes por trilhão ou ppt, a doença geralmente diminui de intensidade.2.3 

Outros fatores de risco incluem:

  • Proximidade a um local infectado.
  • Alta densidade populacional e superlotação.9 

Em salmões imunossuprimidos, a infecção por AGD ocorre mais rapidamente do que em salmões saudáveis, e essa imunossupressão pode ser consequência do estresse devido às altas temperaturas.3 

Diagnóstico da amebíase branquial do salmão

A amebíase branquial do salmão evolui da redução da ingestão de alimentos até a morte eventual, se não for tratada oportunamente. O diagnóstico de AGD geralmente é feito identificando lesões macroscópicas nas brânquias.

Um sistema de pontuação branquial tem sido usado para determinar a gravidade e estágio da doença e decidir qual tratamento usar. O sistema de pontuação branquial é baseado em uma pontuação visual que examina todos os arcos branquiais de cada indivíduo, usando uma escala de 0 (não afetado) a 5 (gravemente afetado). 

Para o exame microscópico, são usados esfregaços branquiais e histopatologia para confirmar a presença de AGD. 

A histopatologia normalmente é o método diagnóstico mais utilizado para complementar a avaliação macroscópica das brânquias, já que as lesões de AGD são bastante características. 

O teste de PCR é especialmente útil para detectar infecções precoces e avaliar a eficácia dos tratamentos. Além disso, ajuda a confirmar a avaliação da pontuação branquial.2,3,8 

Manejo e Tratamento

Os banhos de água doce e o peróxido de hidrogênio são os dois tratamentos mais usados atualmente. 

Os banhos de água doce são um sistema de controle tradicional usado na Tasmânia. O banho de água doce consiste em mergulhar os salmões em água doce (3 ppt ou menos) durante 2 a  horas antes de devolvê-los à água salgada. O tratamento reduz em grande medida a quantidade de amebas presentes nas brânquias e diminui o excesso de muco. 

Como nem todos os países têm disponibilidade de água doce que deve ser usada em enormes volumes, o uso do peróxido de hidrogênio é uma alternativa aceitável. 

Nesse tratamento, dosagens de 1000 a 1400 mgL−1 durante 8 a 12 minutos têm sido efetivas em baixas temperaturas. 

Quando o peróxido de hidrogênio é usado em temperaturas acima de 13,5 °C ou se os peixes têm pontuações superiores a 3 no sistema de pontuação branquial, o peróxido não é seguro ou recomendado, pois aumenta sua toxicidade. 

O peróxido de hidrogênio deve ser usado preferencialmente como tratamento preventivo antes do aparecimento da doença e em temporadas frias.1,2 

Outras alternativas de manejo incluem o uso de alimentos funcionais que podem controlar e reduzir o impacto da doença.  Esses alimentos aumentam a proteção imunológica e melhoram a recuperação dos salmões.1,2 

Estratégias como a vacinação e a seleção genética podem ser uma opção para reduzir a ocorrência da doença. 

Atualmente, estão disponíveis ovos e alevinos de espécies específicas com maior resistência à doença. No caso das vacinas, algumas estão sendo desenvolvidas, mas até o momento não existem vacinas comerciais disponíveis contra a AGD.1,2 

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Referências

1. Oldham T, Rodger H, Nowak BF. Incidence and distribution of amoebic gill disease (AGD) – An epidemiological review. Aquaculture 2016;457:35–42. Available at: http://dx.doi.org/10.1016/j.aquaculture.2016.02.013.

2. Padrós F, Constenla M. Diseases caused by amoebae in fish: An overview. Animals 2021;11:991.

3. Taylor RS, Huynh C, Cameron D, et al. Gill Score Guide-Amoebic Gill Disease (AGD) management Training Document. 2016. Available at: https://www.researchgate.net/publication/319978353_Gill_Score_Guide_-_Amoebic_Gill_Disease_AGD_management_training_document/link/59c48a72458515548f219f1e/download.

4. Young ND, Crosbie PBB, Adams MB, et al. Neoparamoeba perurans n. sp., an agent of amoebic gill disease of Atlantic salmon (Salmo salar). Int J Parasitol 2007;37:1469–1481.

5. Rodger H. Amoebic gill disease (AGD) in farmed salmon (Salmo salar) in Europe. Fish Vet J 2013;14:16–26.

6. Norwegian Scientific Committee for Food Safety (VKM). Risk assessment of amoebic gill disease.; 2014.

7. Mitchell SO, Rodger HD. A review of infectious gill disease in marine salmonid fish. J Fish Dis 2011;34:411–432.

8. Marcos-López M, Rodger HD. Amoebic gill disease and host response in Atlantic salmon (Salmo salar L.): A review. Parasite Immunol 2020;42:e12766.

9. Boerlage AS, Ashby A, Herrero A, et al. Epidemiology of marine gill diseases in Atlantic salmon (Salmo salar) aquaculture: a review. Rev Aquac 2020;12:2140–2159.

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